Carretéis da memória

Carretéis da memória

Wilker Sousa

Tomar a vida como fio condutor da obra. Assim poderia ser sintetizada a proposta da exposição Iberê Camargo, Os Meandros da Memória, em cartaz na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Sob curadoria do francês Jacques Leenhardt (filósofo, sociólogo e diretor da Associação Internacional dos Críticos de Arte), a exposição faz das lembranças de Iberê Camargo (1914-1994) o princípio organizador das 72 obras selecionadas, metade delas inéditas. Destaque para o predomínio dos desenhos e gravuras: 37 no total. “Eu achei que era uma fonte muito interessante, já que o acervo de pinturas não tem uma visão total da obra. Nos desenhos, há todos os momentos, você pode ficar atrás da evolução do artista”, explica Jacques.

É possível afirmar que metáfora central da exposição é o carretel. Se em um primeiro momento a referência é explícita, ao longo da obras subsquentes, o carretel é sugerido a partir do desdobramento em outros temas igualmente caros à arte do pintor gaúcho, tais como o equilibrista e o ciclista. “O tema do ciclista é muito conhecido, só que não se entende bem de onde vem. Formalmente, ele vem de um desenvolvimento do carretel, que é constituído de dois círculos e um eixo”, defende o curador. O ciclista pode ainda ser associado à ideia de andarilho, como atesta o depoimento deixado pelo próprio Iberê: “Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado. Minha bagagem são os meus sonhos. Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza”.

Ao se debruçar sobre a vida e obra de Iberê, Jacques se surpreendeu com a qualidade dos textos escritos pelo artista e decidiu usá-los na montagem da exposição: “para mim foi uma descoberta o fato de ele ser realmente um escritor. Há permanentemente uma relação entre a obra pictórica e a obra literária”. Não bastasse o diálogo poético que estabelecem com as obras pictóricas, os excertos presenteiam os visitantes com passagens de notável sensibilidade, como a seguinte: “Na memória, o antigo permanece. No passar vertiginoso do tempo, o instante quer ficar. O pintor é o mágico que imobiliza o tempo”.

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Quando: até 3 de abril de 2011
Horários: terça a domingo, das 12h às 19h; quinta, das 12h às 21h
Onde: Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre
Entrada Franca
 www.iberecamargo.org.br

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