Cara pessoa branca, você consegue não estar sempre no centro?
Edição do mês(Arte Revista CULT)
Participei de uma roda de conversa sobre mulheres negras e literatura em João Pessoa, no mês de outubro. Organizávamos as cadeiras, quando uma mulher branca mostrou que perto da janela ficaríamos mais confortáveis. Tudo ótimo até ali, menos o tom. “Viu como aqui é muito melhor?”, sorriu com benevolência, performando a superioridade que parecia sentir.
Ela estava ali para gravar depoimentos em áudio. Garantir que nos dariam voz. Afinal, o que seria de nós, mulheres negras, se as pessoas brancas não nos dessem voz? Ela precisava gravar cada uma, sem perder nada. Nossa roda era tão importante! Pegou uma cadeira giratória, a única dentre as de plástico duro, e colocou no centro. Girava, animada, preparando o gravador. Até que, em um lapso de razão, explicou: estou aqui não para falar, mas para ouvir e gravar. Do centro.
Já sem paciência, pedi por favor para que se integrasse ao círculo. Era impossível enxergar todas as mulheres, objetivo principal da roda, com ela no meio. Boquiaberta e com o cenho franzido de quem-só-estava-ali-para-ajudar-e-era-incompreendida, tirou a cadeira do centro e, de pé, passou a levar o gravador de boca a boca. Pelo meio da roda, é evidente. Parando bem na frente de quem estava com a palavra. Demorou a perceber que podia ir para trás de cada uma das mulheres, não era necessário ficar à frente.
Depois de muitos pedidos, abriu mão de segurar o gravador e aceitou que cada uma, ao falar, segurasse o trambolho. Contrariada, sentada em uma das cadeiras que compunham o círculo sem muitas hierarquias, ge
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