Dossiê | Bento Prado Júnior: filosofia sem lugar

Dossiê | Bento Prado Júnior: filosofia sem lugar
Bento Prado Júnior em 1993 (Foto: Arquivo da família)
  Em 12 janeiro de 2007 morria Bento Prado Júnior, deixando como legado uma das mais singulares experiências filosóficas que já ocorreram em solo nacional. Este dossiê procura falar um pouco de tal singularidade, que se serviu principalmente da forma ensaio para colocar em circulação uma filosofia capaz de apropriar-se continuamente de objetos que lhe pareciam exteriores. Literatura, antropologia, psicanálise, ciências cognitivas: em cada um destes campos, Bento Prado foi capaz de encontrar os objetos que a reflexão filosófica exige para refletir sobre os problemas de sua tradição e história. Mas esta dispersão de horizontes era manifestação de uma ausência mais profunda de limites no interior do próprio campo da tradição filosófica. Entre filosofia analítica e pós-estruturalismo francês, entre vitalismo bergsoniano e teoria da consciência de moldes sartrianos: analisando os movimentos de Bento Prado Júnior, pode-se acreditar que ele habita um lugar impossível. No entanto, à sua maneira, Bento Prado forneceu uma resposta possível ao problema da especificidade da filosofia em um país como o Brasil. De forma periódica, aqueles que fazem filosofia no Brasil se perguntam sobre o que seria a “filosofia nacional”. Haveria alguma forma de perspectiva própria do fazer filosofia no Brasil, um lugar de fala que fosse nosso? Mas do que estamos a dizer quando falamos em “filosofias nacionais”? Por exemplo, não é certo que “filosofia inglesa” descreva um conjunto de experiências intelectuais que, à sua maneira, partilhariam

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