Privado: Benedito Nunes, ou a arte do ensaio

Privado: Benedito Nunes, ou a arte do ensaio
André Duarte A morte de Benedito Nunes, em 27 de fevereiro passado, deixa grande vazio na cena intelectual brasileira. Em longa e fértil trajetória de pensamento, Benedito Nunes foi expoente maior da tradição ensaística nacional. Dele, com organização e apresentação de Victor Sales Pinheiro, a editora WMF Martins Fontes acaba de lançar Ensaios Filosóficos, coletânea de textos que percorrem a história da filosofia de Platão a Paul Ricoeur, passando por Hegel, Nietzsche, Heidegger, Husserl, Gadamer, Sartre, Foucault e Hannah Arendt. No livro, temas centrais da fenomenologia, da hermenêutica e da estética são abordados com base em seu entrelaçamento e confluências. Os ensaios privilegiam a discussão das interações entre poesia e filosofia e entre narrativa histórica e ficcional, abordam os aportes da hermenêutica para a teoria social, problematizam a articulação entre filosofia, memória e tempo, bem como atribuem especial atenção à questão da linguagem. No ensaio Poesia e Filosofia: uma Transa, Nunes afirma que o “movimento de vaivém da filosofia à poesia e da poesia à filosofia remonta à compreensão preliminar, linguageira, do ser no meio do qual nos encontramos” (p. 17). Fiel à sua formação fenomenológica e hermenêutica, mas sem qualquer sectarismo, Benedito Nunes atuou ao longo dos anos 1960 como importante embaixador intelectual, introduzindo e analisando para o leitor brasileiro as principais referências da cena teórica francesa. Assim, a publicação da Crítica da Razão Dialética, de Sartre, suscitou imediatamente largo

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