Artista das ruas
Renata Cardarelli
Na íngreme rua João Moura, zona oeste de São Paulo, uma casa pintada com cores vibrantes chama a atenção. O rosa, azul e amarelo da parede contrastam com o letreiro branco da janela, que indica: Choque Cultural. Conhecida por apresentar mostras voltadas para linguagens cotidianas, a galeria está com os três andares tomados pela arte urbana de Zezão. O rapaz faz grafite desde 1995 e conta que naquele momento enfrentou muitas dificuldades na vida pessoal: “Ao invés de beber para esquecer os problemas, eu saia na rua para pintar. Só que nos anos 1990 o grafite não tinha aceitação na sociedade”.
Hoje, o trabalho de Zezão enfrenta menos preconceito e é conhecido e respeitado. O californiano John Randazzo, de 43 anos, está de passagem por São Paulo e, segundo sua namorada, a brasileira Luiza Augusta, de 45 anos, ele não para de falar no Zezão desde que chegou à cidade. O norte-americano abre um largo sorriso quando falo que estou fazendo uma matéria para o site da CULT: “Conheci o trabalho dele e de Os Gêmeos em um documentário que assisti, e gostei da maneira como o Zezão usa a sua arte para abordar problemas da cidade, como violência e poluição”.
No térreo da galeria, a maior parte das obras expostas é feita com colagem sobre madeira: são trabalhos formados por barras de madeira, placas de sinalização de trânsito, papel e grampos. O visitante pode apreciar as obras ao som de músicas selecionadas pelo próprio artista, que revela que escolheu canções de Biosfera e Brian Eno para que o público se sentisse como ele se sente no momento de criação artística: “Quando eu vou ao subterrâneo, que é um lugar meio surreal, a música me influencia. Ponho essas músicas no meu iPod e fico ali viajando. Eu quis colocar na mostra para que o visitante ouvisse e sentisse a mesma sensação que eu sinto”.
Quando percorremos toda a exposição, o sentimento pode variar entre alegria e tristeza. “Eu sofro de depressão, que é uma doença que tem picos e isso se reflete muito no meu trabalho”. No andar superior, as cores vibrantes de obras intituladas de Psicodélico revelam um Zezão mais alegre: “às vezes, eu nem sei como consigo colocar para fora tanta cor, felicidade”. Descendo as escadas, uma televisão prende o olhar do visitante. A imagem é sempre a mesma: as laterais são escuras e o centro é claro. O barulho de água corrente faz com que tenhamos certeza de que se trata de um bueiro. As escadas nos conduzem a este mundo inferior. “No início, meu trabalho não era aceito pelos meus amigos e pela minha família. Ninguém poderia apoiar uma pessoa que ia ao esgoto ou à cracolândia para pintar. Até então, eu era chamado de ‘Jack Ass’, de ‘coco humano’”, revela.
Os novaiorquinos Alex Bergan, de 31 anos, e Andre Jean, de 30 anos, estão em lua de mel e, seguindo o conselho de um amigo brasileiro, resolveram passar na Choque Cultural. O casal se encantou com o trabalho de Zezão. “Gosto muito das fotografias. Não posso imaginar como ele faz isso. É incrível. Eu não teria coragem de visitar esses locais. Ele faz com que um lugar tão feio pareça bonito e consegue nos passar uma boa impressão”, diz Alex.
Ficou curioso? Então, ainda dá tempo de passar pela Choque Cultural e apreciar as obras de Zezão, que afirma: “É um tipo de trabalho que não se vê nos Jardins ou no Morumbi. Sempre estará no gueto, no esgoto, embaixo de uma ponte, só onde está detonado”.
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Vari Ações Urbanas por Zezão
Até 7 de agosto
Galeria Choque Cultural
Entrada franca