Arqueologia da violência: uma instanciação

Arqueologia da violência: uma instanciação
Bento Prado Júnior com Ruy Coelho, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir na TV Excelsior, 1960 (Arquivo da família)
  Ao retomar a apresentação que Bento Prado Júnior fez dos textos de Pierre Clastres, pretendo apresentar algumas operações de pensamento, certas estratégias de argumentação e de retórica que me parecem marcar o estilo característico de Bento Prado Júnior filosofar, o que significa também que são figuras de seu modo próprio de entender o que seja filosofia. Para tanto, a tradução brasileira de Arqueologia da violência – Pesquisas de Antropologia Política (Cosac & Naify, 2004), de Pierre Clastres, proporciona uma ocasião privilegiada. No entanto, antes de abordar o tema específico de minha contribuição para o presente dossiê, penso que seria pertinente levantar uma questão preliminar: qual seria o sentido de tornar a publicar essa mesma apresentação da obra de Pierre Clastres no fecho de Alguns ensaios: filosofia, literatura, psicanálise (Max Limonad, 1985), coletânea de ensaios de sua própria autoria, na qual Bento Prado Júnior reúne alguns de seus trabalhos sobre filosofia, literatura e psicanálise? Nesse sentido, cabe notar que o penúltimo capítulo de Alguns ensaios intitula-se Pierre Clastres, e antecede o capítulo final, dedicado a Desgaudrioles: a excentricidade da razão – epílogo no qual Bento Prado Júnior se permite rir da filosofia em grande estilo, rir dela através da própria filosofia, como Bento considerava que seria uma modalidade de riso não disciplinador nem colonizador, riso irô- nico, ferino, mordaz, “sem-vergonha”. Nesse mencionado prólogo à obra tardia de Clastres, Bento marca a diferen

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