Apresentação | Um conceito em disputa: com quantas teorias se faz o gênero?
ilustração: Ina Gouveia
Uma mulher cis e uma mulher trans desejam transformar o mundo. Sonham que a fome, o desemprego, o desamparo, a violência e o abandono se tornem citação de uma época histórica nebulosa, em que se morria de fome e de tristeza. A mulher cis olha seus cabelos brancos que proliferam e se sente cansada porque já caminhou muito, mas a jovem trans pega na mão dela e diz: “Esqueceu? Temos um compromisso com a vida”. E elas seguem juntas. São movidas por algumas certezas: sabem que precisam fazer disputas com as concepções ontológicas impostas pelo colonialismo, e, nesse contexto, não existe terreno sagrado que esteja fora ou acima da crítica. A senhora cis e a jovem trans se encontram e acreditam na força da promessa da escuta e da crítica como fertilizante que permitirá a emergência de outro mundo.
Interpretar o mundo e transformá-lo são duas tarefas indissociáveis. E, nesse movimento, estamos imersas em uma crítica às categorias analíticas e políticas de “gênero” e “patriarcado”. Há um conjunto de identidades construídas sob o signo da abjeção e que, portanto, nunca chegaram a gozar do privilégio do reconhecimento do status de gente. Ou seja, elas foram expulsas desde sempre da categoria gênero. Este dossiê tentou reunir textos que nos apresentam como as disputas estão em pleno curso e como a categoria “experiência” tem sido o tutano das críticas a qualquer concepção universal de homem e mulher. Deparamos com uma plêiade de teorias que terão efeitos singulares no mundo das disputas políticas.
Os transfeminismo
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