Apresentação
Edição do mês(Fotomontagem de Fernando Saraiva)
É possível que o leitor tenha aprendido a história nos bancos escolares: na Assembleia Constituinte que enquadra o poder absolutista no curso da Revolução Francesa, estar à esquerda ou à direita da sala indicava uma clivagem não só espacial, mas sobretudo política. À direita, a aristocracia renitente do Antigo Regime, defensora da sociedade estamental fundada na Coroa e na Igreja. À esquerda, os chamados “patriotas”, contrários ao poder do rei e do clero. Ao centro, os moderados, à procura de uma posição de diálogo entre ordem constitucional e monárquica.
Daquela divisão de aparência trivial, incerta e imprecisa naquele momento, viria a espinha dorsal da história contemporânea. Direita e esquerda, polos fundamentais e antagônicos do espaço político global pós-1789, permanecem como conceitos e práticas em constante revisão, aperfeiçoamento e mutação. Afinal, ser “de direita” ou “de esquerda” é uma condição política indissociável da semântica particular de seu próprio tempo: estar à esquerda na Assembleia da França revolucionária é posição distinta de estar à esquerda na Primavera dos Povos de 1848. Do mesmo modo, ser “de direita” tem sentidos diversos no Brasil que saía da ditadura nos anos 1980 e no Brasil conflagrado pós-2013.
Ainda que grosseiramente, sem imiscuir-se na complexidade própria dos conceitos, tracemos linhas mais ou menos gerais para sublinhar cada flanco político (ou, se preferir, ideológico). À direita, o valor da tradição, a permanência do legado das gerações passadas,
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »