A anatomia de um pânico moral

A anatomia de um pânico moral
Obras “Todos os azuis possíveis” (2019) e “Todos os rosas possíveis” (2019), da série “Formas contrassexuais”, da artista Élle de Bernardini (Imagem: Cortesia da artista)
  Um espectro ronda o Brasil: o espectro do transexualismo. Dia e noite nossas crianças e adolescentes são bombardeadas por uma mídia que incentiva a negação do real do corpo, questiona a centralidade da família e, por meio da recusa da ordem simbólica, prega um império da autoafirmação identitária. Uma verdadeira onda toma conta das escolas, que precisam se haver com uma hiper(trans)sexualização, responsável por subverter a constituição subjetiva daqueles que estão mais despreparados para com ela lidar: “nossos jovens”. Seja no delírio psicótico da negação da diferença dos sexos – que se estende inclusive para a destruição da língua portuguesa –, na perversão que incute sexualidades polimorfas ou numa histeria que faz com que uma condição psiquiátrica rara seja popularizada como uma moda descolada, uma coisa é fato: estamos diante de uma epidemia. A despeito da caricatura, é provável que você já tenha ouvido algum discurso parecido com esse – na igreja, no churrasco, no grupo de pais em escolas ou até mesmo da boca de profissionais psi. De maneira mais ou menos explícita, setores importantes da sociedade sentem haver um grande e perigoso aumento de experiências trans, cujo horror alcança suas expressões máximas ao se aproximar da infância. Não é surpreendente notar como a infância e a sexualidade, sob o fantasma da inocência, voltaram a dominar o palco das eleições? Algo que já havíamos visto em 2018, mas que se repetiu em 2022, sob acusações de que quem não subscrevesse o projeto bolsonarista assumir

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