Anatomia da arte de amar

Edição do mês
Anatomia da arte de amar
o psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm
  Freud causou muita polêmica ao afirmar que a anatomia é o destino. Na verdade, ele estava parafraseando Napoleão, que teria dito que a geografia é o destino para indicar que o terreno de uma batalha decide a sorte do vencedor. Neste breve artigo, pretendo esboçar uma pequena anatomia das narrativas amorosas, como forma de contribuir para o terreno no qual se poderia firmar uma geografia mais ampla sobre os afetos, emoções e sentimentos, dos quais o amor parece ser o ponto de representação do conjunto. Há mitos sobre amores “naturais”, como o amor materno, o romântico concluído e acabado; mitos sobre amores que curam e que destroem; mitos do amor como antídoto contra todos os males do sofrimento. Eles serão abordados criticamente pela ideia de que, na verdade, construímos certas necessidades, tanto na expressão como na interpretação de afetos, para tornar universais determinadas políticas de afeto em detrimento de outras. Política de afeto não significa, em hipótese alguma, que existam afetos melhores que outros ou que devamos acreditar em um tipo de hierarquia universal entre eles. Esta é a posição defendida aqui: todos os afetos devem ter direito à cidadania plena. Afetos ruins são afetos mal elaborados, mal digeridos, mal partilhados. A arte de amar, escrita por Ovídio por volta do século 1, era um convite a conhecer e diversificar as maneiras de amar, colocando esse sentimento como um dos principais a serem cultivados por quem aspira a uma vida feliz. Em sua anatomia, o poeta latino separa, como era usual no mundo grego, o

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