Como o amor tem sido reduzido ao regime romântico-monogâmico?
detalhe da tela Os Amantes (1928), de René Magritte
É preciso iniciar com uma ressalva: trata-se de abordar o amor não apenas como um sentimento, mas de sublinhar suas condições culturais, históricas e sociais no que diz respeito à formação de casais. O meu interesse filosófico está na dimensão simbólica que implica discursos e prescrições que organizam as nossas formas de desejar, sentir e gerir relacionamentos. Em termos mais específicos, interessa-me como o ideal do amor romântico orienta determinadas condutas em relação à intimidade, à vida afetivo-sexual e à sua vinculação quase automática ao sistema monogâmico de conjugalidade.
A visibilidade dos debates sobre as várias formas de relacionamentos e as múltiplas dinâmicas amorosas tem aumentado. No que diz respeito aos formatos de relacionamentos, aos contratos e combinados, a validade universal da monogamia tem sido prontamente questionada pela agamia e por diversas outras modalidades não monogâmicas. Por outro lado, as dinâmicas do amor confluente e do romântico se chocam entre elas e com o poliamor. Diante da tese colonial de que a maneira mais “civilizada” de amar está na combinação entre o formato monogâmico e a dinâmica do amor romântico, encontramos boas críticas do filósofo Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, e da psicóloga Geni Núñez. Monogamia não diz respeito somente à limitação de parcerias afetivo-sexuais, pois sua imposição “fazia parte de um projeto civilizatório que buscava incluir a moral cristã como única possível”, como argumenta Núñez em Descolonizando afetos: experime
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