Amizade
Pierre-Auguste Renoir, "Confidências", Coleção Oskar Reinhart, 1878 (Arte Revista Cult)
Pode alguém passar por um processo de análise e afirmar com todas as certezas “meu analista não é meu amigo”? Amizade e análise dividem esse lugar ímpar em relação aos vínculos sociais, por sustentarem um hiato nada calculado entre intimidade e distância. Por mais que o amor já tenha encontrado seu lugar de destaque na psicanálise, qualquer olhar mais atento percebe que a amizade também está imbricada nas estruturas que sustentam o vínculo transferencial. A amizade pode ser entendida como uma aliança que carrega a memória de um vínculo.
Enquanto saber e prática, a psicanálise nasce de uma amizade privilegiada, exclusiva e passional entre Freud e Fliess. Podemos assim inferir que uma amizade foi a geradora da psicanálise. Nas famosas correspondências entre os dois, essa amizade foi quase totalmente registrada, já que os encontros entre Freud e Fliess foram poucos. O vínculo estabelecido entre os dois permitiu um espaço de discussão, desabafo, construção e confissões relacionados a praticamente tudo: trabalho, teoria, família, mulheres, ciência e outros. Não por menos, perder essa amizade foi um momento muito duro para o jovem Freud. Fliess deixou uma marca, mesmo que ainda depois da ruptura outros amigos vieram, de outra forma, ocupar esse lugar.
Os pares são fundamentais na história da psicanálise. Poder falar sem que seja necessariamente uma supervisão e sem medo de retaliação deveria ser uma prática e não um privilégio. O próprio Freud foi se dando conta disso, quando sentiu a necessidade de ter mais pares e não ape
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