Dossiê | Agamben, um filósofo para o século 21
Giorgio Agamben (Foto Christina Bocayuva)
Para aqueles que, como eu, se iniciaram na filosofia entre o fim dos anos 80 e o início dos anos 90 do século passado, havia um sentimento desencantado de não viver mais num mundo habitado por grandes filósofos. Naquele momento, todos, ou quase todos os grandes filósofos do século 20, ou já estavam mortos (Freud, Benjamin, Wittgenstein, Merleau-Ponty, Bataille, Adorno, Arendt, Heidegger, Sartre, Lacan, Foucault, Althusser) ou já estavam no fim de suas vidas e iriam morrer nos anos seguintes (Debord em 1994, Deleuze em 1995, Lyotard em 1998, Blanchot em 2003, Derrida em 2004). Nós, enquanto estudantes, invejávamos nossos professores que tinham sido testemunhas da construção do pensamento do século 20, muitos deles tendo escrito livros ou publicado teses sobre autores vivos, cujos cursos alguns deles chegaram a frequentar. O sentimento que nos acometia então era o de não sermos mais contemporâneos da filosofia ou de não haver mais nenhuma filosofia contemporânea a nós, vivendo o tempo de um hiato que parecia não ter fim. Esse quadro iria mudar significativamente nos anos seguintes.
Nós não sabíamos, mas nesses mesmos anos, uma série de novos pensadores começava a surgir e a publicar seus primeiros livros. Dentre eles, um dos que vieram a assumir uma importância fundamental no pensamento contemporâneo foi o filósofo italiano Giorgio Agamben, nascido em Roma, em 1942, e que já tinha publicado, na Itália, seu primeiro livro, O homem sem conteúdo, em 1970. Agamben, como outros pensadores de sua geração (eu citaria Alain Badiou , Jacques
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