Privado: Afogamentos

Privado: Afogamentos
Abre os olhos antes de o despertador tocar. Ainda são dez para as seis. Sente um frio cortante mesmo debaixo de tantas cobertas. Deprimido, lamenta ter deixado o mundo dos sonhos. Uma angústia inexplicável entra pela sua garganta, como um jorro de água do mar, derrubando-o de volta na cama. Afoga-se, debate-se imóvel. Chora calado para não acordar a mulher. Sente frio, muito frio. ........... Um menino no mar com sua prancha de isopor, em formato de tubarão. Com fome, quer voltar à barraca da mãe. A maré afastou-o. Quando se ergue e se localiza, vê uma multidão de adultos reunidos na areia; percebe rostos preocupados. Uma mulher jovem está no meio de um círculo, um homem grisalho a fazer-lhe perguntas. Ela chora, põe as mãos no rosto. Como venta, o menino arrepia-se e corre em direção à barraca para se aquecer numa toalha. Ao seaproximar, nota que a mulher jovem é a sua mãe. Ela não o viu ainda, está de costas. Ele a ouve falar em afogamento, caindo de joelhos, desesperada. Algumas pessoas pedem que mantenha calma. De longe vem um salva-vidas, correndo. Ela então vê o menino, seus olhares se cruzam. Ela grita: “lho”, “lho”, “graças a Deus”! ........... “Carlos, sai daí que o mar está virando rápido”. Ele ouve a voz já longe. Mas Carlos não sai, é um adolescente conante. A correnteza traiçoeira vai levando-o para um ponto afastado, para a “vala”. Terror. Vai sendo arrastado, tragado, e logo não vê mais os colegas na areia. Engole água e passa mal. Quase perdendo a consciência, pensa na mãe que o aguarda em casa pa

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