Abaixo o falo, viva o dildo

Abaixo o falo, viva o dildo
Caixa com dildo e outros acessórios eróticos de casco de tartaruga feitos no Japão na década de 1930 (Wellcome Collection)
  Talvez as mais duras e potentes provocações feitas hoje ao movimento psicanalítico e às teorias e práticas que o sustentam se materializem no discurso do filósofo trans Paul B. Preciado. Um elemento central de seu pensamento é a crítica radical do que foi denunciado pelo pensamento feminista da segunda metade do século 20, Monique Wittig e Luce Irigaray à frente, como logofalocentrismo psicanalítico: o modo como a psicanálise legitimaria, com suas teorias e práticas, a dominação masculina, o patriarcado e a redução a objeto das mulheres, seja objeto epistêmico, seja objeto de troca, sexual ou mercantil. Não por acaso, o falo está no núcleo dessa categoria, bem como dos dispositivos, operações e efeitos que ela procura descrever. É visando a essa centralidade que a operação contrassexual desencadeada por Preciado toma em suas mãos um dildo, ou vários. Dildo? Preciado, em seu Manifesto contrassexual, afirma tratar-se de algo aparentemente marginal, “um objeto de plástico que acompanha a vida sexual de certas sapatonas e gays queers, e que até agora havia sido considerado como uma simples prótese inventada como paliativo da incapacidade sexual das lésbicas”. Tal objeto, para muitos pouco significativo, tem o poder de desestabilizar precisamente esse signo maior da psicanálise e do seu poder, o falo. Parte dessa perturbação se materializa precisamente em sua banalidade, no caráter ridículo de sua posse, que o leva a ser escondido no fundo de gavetas e em compartimentos secretos. Theo Barreto, em seu conto “Coxas”,

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