A última aventura
O crítico e professor Roland Barthes no College de France, em 1977 (Foto: Reprodução)
Crítico literário e teatral, professor, semiólogo, pintor de domingo, pensador sobre a cultura de massas, cronista de viagens, comentarista musical, colunista de jornal. Todos esses lugares foram ocupados por Roland Barthes. Mas hoje sabemos que, poucos anos antes de morrer, ele também quis um lugar que ele, desde sempre, criticou: o de romancista.
A publicação das notas do curso A preparação do romance, em 2003, mostrou essa pretensão. Durante dois anos, ele falou dessa sua necessidade de mudar de vida, o que, para alguém que sempre escreveu, significaria mudar de escrita. Para isso, o curso abordaria todas as etapas para preparar um romance (e não todas as etapas para escrever um romance): a transformação da vida em livro, a anotação cotidiana, a vontade de escrever, a escolha do que escrever, o isolamento do mundo.
Qual o resultado de todo esse trabalho? Supostamente nenhum. As notas do curso terminam com uma triste constatação: “não posso tirar nenhuma Obra de meu chapéu e, com certeza, não aquele Romance cuja Preparação eu quis analisar”. Em 1995, quando Éric Marty publicou as Obras completas de Barthes, descobrimos que Barthes tinha escrito sim alguma coisa, mas, à primeira vista, pouca coisa: “Desse projeto, nós só dispomos de oito folhas, oito esboços, oito planos que reproduzimos como fac-símile no fim do volume”. A visão da crítica foi unânime: Roland Barthes teria fracassado na sua última aventura, o romance. Várias foram as razões levantadas para esse fracasso: a depressão por causa da morte da mãe, as de
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