A SP de Tom Zé

A SP de Tom Zé

Jaqueline Gutierres

“Só em cima do palco minha música está completa, quando o corpo intervém e dialoga com objetos ao meu redor”, comenta Tom Zé ao explicar à CULT o projeto Instalação – Páginas Amarelas, que realiza em homenagem à cidade de São Paulo e, em especial, ao Sesc Pompeia. Inagurada em 1982, essa unidade foi projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, que revitalizou a antiga Fábrica de Tambores, estrutura de concreto armado na zona oeste de São Paulo.

A ideia, segundo o músico, foi inspirada na seção de números de empresas e serviços das listas telefônicas e nos espaços físicos que são ícones da região. “A cidade tem uma série de símbolos com os quais o cidadão convive diariamente. Essa linguagem visual, artística e simbólica é como se fosse um alimento público”, diz no texto abaixo.

Os shows, nos dias 8 e 9 de dezembro, contam com produções feitas exclusivamente para as apresentações, além de outras composições de Tom Zé, que se ligam ao assunto principal, como A briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel, Augusta, Angélica e Consolação e O Abacaxi de Irará.Leia abaixo entrevista e texto exclusivo que Tom Zé escreveu para a CULT sobre o projeto.

CULT – Você pode explicar melhor o projeto “Instalação – Páginas Amarelas”? Ele é inédito? De onde veio essa ideia e como será executada?

Tom Zé – “Instalação – Páginas Amarelas” nasceu durante uma excursão que fiz há pouco à Europa e aos Estados Unidos. Eu cantava os telefones úteis das Páginas Amarelas. Começou em Nova York, no show do Lincoln Center. Agora, no SESC Pompeia, o nome “Instalação” vem para: 1) mostrar minha inveja das artes plásticas; 2) sabe aquela teoria de Gordon Craig, de que existem as artes temporais e as artes espaciais? Pois é: eu sempre lutei para minhas canções existirem não só no tempo, mas também no espaço em que eu me movo; por isso, quando elas estão no disco, ali está apenas a metade. Só em cima do palco ela está completa, quando o corpo intervém e dialoga com objetos ao meu redor. Aí está.

Você já escreveu músicas sobre o assunto? De algum modo você dá lugar a esses temas em algumas de suas músicas, como as que você mesmo citou no texto, A briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel e Augusta, Angélica e Consolação. De onde vem essa preocupação?

Realmente, A briga do Edifício Itália e Augusta, Angélica e Consolação, além de várias outras, podem ser arroladas entre as canções em que eu contextualizo situações com as quais o cidadão comum se depara no seu dia-a-dia.

Como começou o projeto? A inspiração é o Sesc Pompeia? Qual sua relação com o espaço?

O que me inspirou não foi propriamente o Sesc Pompeia, mas o Sesc. A presença dessa entidade que, atuante em todos os bairros, modifica e enriquece a vida do paulistano. O Sesc é um Primeiro Mundo dado a nós, ao nosso quarto mundo.

INSTALAÇÃO – PÁGINAS AMARELAS, por Tom Zé

A cidade tem uma série de símbolos com os quais o cidadão convive diariamente. Essa linguagem visual, artística e simbólica é como se fosse um alimento público. E uma identidade espacial que relaciona o homem com o seu ambiente e sua cultura em geral.

Quando um símbolo desses sobe ao palco, ganha um significado surpreendente que mexe com a capacidade crítica de cada personagem da vida urbana. Torna-se um jogo e o ouvinte pratica diversas traduções, passando a sentir-se também autor e criador. Farei dos espectadores partícipes, levando ao palco números da lista telefônica de São Paulo, Páginas Amarelas. O contexto utilitário será reproduzido por mim e pela banda, se converterá em música.

Além disso, vou apresentar sucessos que de algum modo saíram desse mesmo embornal, desse mesmo útero, como A briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel, Augusta, Angélica e Consolação, O Abacaxi de Irará e outros “objetos” tirados da pluralidade do dia-a-dia para a singularidade da obra de arte.

Tudo isso para comemorar a alegria que reinou no meu coração na primeira vez em que entrei em uma unidade do SESC de São Paulo, e pensei em todas as pessoas da cidade passando a desfrutar um novo reino da fantasia, mas de concreto e cimento armado.

A banda contará com o braço cósmico de Lauro Léllis na bateria; Renato Léllis para beliscar as esperanças das meninas de 18 anos com sua guitarra; Cristina Carneiro representando todas as filhas de Mnêmosis, no teclado; Jarbas Mariz, o paraibano que nasceu em Minas Gerais, por isso vem na percussão; Felipe Francisco Alves, que já foi o rei da voz nos anos 50 e agora toca baixo; Luanda, cujo pai era do elenco da Rádio Sociedade da Bahia no tempo em que não existia televisão e hoje canta.

E o próprio Tom Zé, que já foi o autor de São São Paulo, meu amor.

Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, São Paulo (SP)
Quando: 8 e 9/12, às 21h
Quanto: R$5 a R$20
Info.: (11) 3871-7700, www.sescsp.org.br

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