Privado: A ratoeira da internet
por Marcia Tiburi
Atualmente se fala em "cultura do medo", uma expressão que designa a função antipolítica do medo enquanto fomentada pelos poderes existentes. Por antipolítico se designa aquilo que destrói a política. No entanto, o medo fez parte do pensamento político, como sentimento que está na fundação do Estado moderno em uma teoria tal como a de Hobbes, para quem o Estado tem a função de administrar o medo da morte violenta, não de eliminá-lo. Não interessa uma sociedade justa, neste contexto, porque o poder precisa da violência para ser como é. Daí que a política seja tão importante para os governos.
O medo que sentimos em nossa cultura é o medo da violência que nos tira da impagável sensação de segurança. Aquela de, por exemplo, estar protegido de assaltos, assassinatos, de ser expropriado de bens pessoais, de ter direitos perdidos, etc. Por outro lado, os meios de comunicação oferecem a violência física nas telas, páginas de jornais e na internet, de modo que a violência vira uma mercadoria e, desta forma, aparentemente controlável por quem a compra. Os meios são, eles mesmos, violentos.
É verdade que vivemos em uma cultura do medo; no entanto, a expressão não deixa clara que há uma produção cultural do medo e corre o risco de sinalizar, no campo do senso comum, a uma relação natural com o medo. Se entendemos como cultura o campo das representações as mais orgânicas (confundimos, por isso, cultura e natureza), é porque esquecemos seu caráter fabricado.
Sem discordar da formulação, gostaria, no entanto, de sugerir
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