A poética do cutelo em Jorge Lúcio de Campos
Poesia de Jorge Lúcio de Campos tem versos breves e recortados; sua fala assimétrica, áspera, é regida pelo signo da cicatriz e do corte.
Jorge Lúcio de Campos realiza uma pesquisa poética que valoriza as imagens inusitadas. Os objetos, retirados do uso cotidiano, são redesenhados como entes do imaginário, em versos breves, recortados, numa sintaxe de silêncio, fratura e ruído. A fala assimétrica, áspera, estabelece relações de espelhismo com a face da história, regida pelo signo da cicatriz e do corte. Todos esses vetores conceituais estão presentes na jornada criativa do autor carioca desde os primeiros títulos publicados, Arcângelo (1991), Speculum (1993) e Belvedere (que reúne poemas do autor escritos entre 1988 e 1993). Nessa sua primeira lírica, comparece o diálogo consciente com a fotografia, o desenho e a pintura, como na composição intitulada “O belo pássaro decifra o desconhecido para um casal de namorados”, dedicada a Joan Miró: “já contorcido/ o desenho/ se devora/ (andorinhas/ disfarçadas)/ luvas e funis/ ensaiam uma/ dança erótica”, de humor discreto e sutil. Em outra peça desse período, intitulada “Forgerie”, temos uma quase ars poetica: “um fio de navalha/ ceifa a vida nas/ palavras de Tzara/ ‘nossos nervos/ são chicotes/ entre as mãos/ do tempo...’”, poema notável que realiza, em apenas sete linhas, o entrecruzamento de vida, literatura e história, marcadas pelo emblema da incisão, mutilação de cutelo. A dor da linguagem, publicado em 1996, revela o amadurecimento do projeto literário do poeta, que
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