A musa etérea

A musa etérea

Por Marília Kodic Fotos Paula Prado

Não fosse sua pele branquíssima e o sotaque britânico, Florence Welch poderia passar-se por brasileira. Vestindo um mini shorts, comendo pães de queijo e bebendo guaraná – e, ainda, devota do açaí e das churrascarias brasileiras –, a líder da banda Florence and the Machine recebeu a reportagem da CULT no Hotel Tivoli, em São Paulo, na tarde desta segunda-feira (23) para falar sobre os shows que realiza em São Paulo (24), Rio de Janeiro (25) e Florianópolis (28) neste mês, durante o Summer Soul Festival.

Ligeiramente tímida, escondida sob um chapéu marrom, e com uma voz baixa – imagem distante da musa dos videoclipes e shows –, Florence falou sobre a admiração pelos artistas pré-rafaelitas, a quem é associada por sua imagem etérea e diáfana, o status de ícone da moda (Florence é capa da Vogue britânica de janeiro) e o estilo musical de seus dois álbuns, Lungs (2009) e Ceremonials (2011): “o primeiro é uma desperação clássica, e o segundo, uma introspecção celestial”.

Além disso, revelou à CULT o sonho que cultiva desde criança. Leia a seguir a entrevista completa.

CULT – Você chegou ao Brasil uma semana antes do primeiro show. Foi uma decisão sua?

Florence Welch – Sim. Eu estava querendo umas ‘feriazinhas’. Quando viajamos para shows, não tenho tempo de ver muito do lugar, porque estou sempre trabalhando, então quis vir aqui porque sabia que seria um lugar incrível.

O que fez no Rio de Janeiro?

Fomos a uma cachoeira, escalamos uma montanha, aprendemos a sambar, comemos um monte de açaí, fomos à praia e assistimos aos parapentes, fomos derrubados por um monte de ondas, comemos um monte de carne. Consegui até tomar sol, olha aqui [mostra o braço].

Como são seus fãs no Brasil?

Os fãs no Brasil são muito apaixonados, criativos e animados, estou ansiosa para o show.

Dog days are over é um dos seus grandes hits. Qual o significado da letra?

Não tenho ideia.

Você frequentou o Camberwell College of Arts, e sua mãe é professora de Estudos Renascentistas na Universidade de Londres. Quem são os artistas que você admira?

Eu gosto de Ed Roche, John Baldessari… gosto de Francis Picabia, Barbara Kruger, Anne Marie Trechslin, Ugo Rondinoni… e também de Gustav Klimt.

Você foi influenciada por sua mãe?

Provavelmente, ela me levava a galerias e igrejas e o velho Palácio Medici [em Florença, Itália].

Seu estilo lembra um pouco o do pintor pré-rafaelita Dante Gabriel Rossetti…

Rossetti?! Eu amo o Rossetti! Nós vimos um monte de obras dele, do John William Waterhouse e de vários artistas pré-rafaelitas e sua estética para inspiração para o álbum Lungs. Para esse, vimos muito de Klimt.

Você está na capa da Vogue britânica deste mês. Como se sente sendo um ícone fashion?

É legal. Quando menina, você sempre pensa… na verdade, não posso acreditar que isso aconteceu, que eu estou na capa da Vogue. Foi legal fazer. É o tipo de coisa que você pode mostrar aos seus netos.

De onde vêm suas roupas?

De todo lugar. Brechós, lojas vintage. Tenho um estilista para os shows, trabalhamos muito próximos. Sabe, se você usa roupas de designer, se sente protegida. Senão, você fica assustada. Me sinto vulnerável sob o olho da fama, da imprensa. Mas se vestir é ser capaz de enfatizar sua personalidade do modo certo. Comprei uns shorts aqui no Brasil, hoje, da Bianca… esqueci o nome da loja!

Que áreas da cultura, além da arte, influenciam seu trabalho?

A literatura é uma influência enorme. Mas eu acho que você pode captar tanta informação de um quadro de aviso de uma igreja, uma placa na rua ou uma conversa… a inspiração está em todo lugar.

Está lendo algum livro?

Estou lendo Middlesex (Ed. Rocco), do Jeffrey Eugenides, é muito bom!

E quanto ao cinema, tem um filme preferido?

Party Monster, de Fenton Bailey e Randy Barbato.

Florence folheia uma edição da Revista CULT: "Que ótimo nome para uma revista!"

Como lida com a fama?

Gosto de algumas partes dela. Gosto de poder tocar para muitas pessoas, poder fazer música como uma profissão, tenho sorte de poder fazer o que gosto e viver disso. Não gosto da intrusão na minha vida pessoal, esse lado é ruim. Não ligo para dar entrevistas, mas não é o que eu escolheria fazer se me perguntassem [risos].

Você escreve a maior parte das letras de suas músicas?

Sim. Às vezes escrevo no estúdio, às vezes em um pequeno caderno. Acho que é como traduzir a música que você ouve, você escuta um acorde e uma imagem se conjura e aí você a escreve e vai na onda. É como ser uma tradutora.

Escreve todos os dias?

Não. Sou realmente uma compositora não-prolífica. Para o primeiro álbum, escrevi uma música a cada seis meses. Mas para esse tive que escrever muito em um curto espaço de tempo.

Já tem pensado em algo para o terceiro álbum?

Tenho! Quero muito de ir até o estúdio com Isa [Isabella “Machine” Summers, tecladista da banda].

Como descreve o estilo musical de seus dois álbums?

Acho que o primeiro é uma desperação clássica, e o segundo, uma introspecção celestial.

Que músicos contemporâneos ouve?

Ouço bastante Arcade Fire, Kanye West e Jay-Z, Beyoncé. Gosto de Alpines também.

Algum brasileiro?

Eu aprendi um pouco de samba outro dia em um clube. Não dancei muito bem de início, mas eu melhorei. Eu acho… talvez tenha sido por causa da bebida [risos].

Já decidiu a set list para os shows no Brasil?

Sim. Segredo! Vou tentar fazer um balanço entre Lungs Ceremonials. É um som grandioso, temos uma estrutura maior, e estamos tentando recriar os discos – o som deles é bastante imponente, mas temos um bom plano.

Gostaria de voltar ao Brasil em breve?

Adoraria! Todo mundo é tão amigável. A atmosfera é incrível. Gostaria de voltar com mais tempo.

Há algum objetivo na vida professional que ainda não alcançou?

Tocar na Pyramid Stage [palco principal], no festival de Glastonbury. Esse é o meu sonho desde que sou pequena.

(3) Comentários

  1. Com certeza Florence é incrivelmente artista, lendo reparei em um senso de humor interessante e uma maneira sincera de responder.
    Marília Kodic fez ótimas perguntas, uma maneira de esclarecer dúvidas de fãs e quem admira o trabalho da artista.
    Parabéns a equipe Cult, sempre fazendo o trabalho perfeitamente bem.

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