A máquina de pensar em Levrero
Mario Levrero: o romance policial como uma “tentativa de comunicar uma experiência espiritual” (Foto Eduardo Abel Gimenez)
Não estou certa de quem me indicou o primeiro livro que li de Mario Levrero, mas lembro que comecei a leitura de La novela luminosa sem saber muito bem quem era esse autor. Porque não saber quem era esse autor era possível há alguns anos atrás. Como também era possível que alguém o indicasse com o entusiasmo de uma descoberta. No meu caso, a indicação provavelmente veio de uma amiga moisevillense-paulista com quem compartilho muitas das leituras hispano-americanas. Depois viriam algumas outras: “você já leu El discurso vacío? Uma amiga boliviana que conheci em Berlim me emprestou”. Assim, sinuosa, era até pouco tempo a circulação da obra desse escritor uruguaio, falecido em 2004 em Montevidéu, cidade onde nasceu em 1940, que a editora Rocco começa a publicar agora entre nós, na coleção Otra Língua, organizada por Joca Reiners Terrón, com o romance Deixa comigo (1996).
O início da trajetória editorial de Levrero certamente contribuiu para esse modo de circulação. Sobre seu primeiro livro de contos, La máquina de pensar en Gladys, conta Levrero que “foi durante quase vinte e cinco anos um livro quase inexistente. Publicou-se em dezembro de 1970, poucos dias depois de La ciudad, romance que merecera uma menção do semanário Marcha e que, talvez por isso, teve um pouco mais de sorte”. Mas essa sorte adicional do primeiro romance não foi tão significativa assim: impulsionada pelo amigo e editor Marcial Souto, a publicação numa coleção de ficção científica da editora espanhola Plaza & Janés teve uma difusão escassa e a
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