À espera de muitos milagres

À espera de muitos milagres
E nós? Qual é o nosso papel nesse cenário de barbárie que toma conta do país? (Arte Revista CULT)
  Fevereiro, março. Quando Água Preta, Sumaré, Verde – córregos canalizados pelo desenvolvimentismo tacanho – inundam as ruas Turiassú, Francisco Matarazzo, Aspicuelta. A classe média dos bairros de Perdizes, Pompeia e Vila Madalena, a nata da zona oeste paulistana esbraveja. Quem passa, sem dar atenção às placas de “cuidado, risco de alagamento”, pode perder o carro, se machucar. Ou, em casos extremos, morrer afogado, como aconteceu com um rapaz que ficou preso debaixo de um automóvel há cerca de dois anos. O Plano de Avenidas, de Prestes Maia, definiu, no final dos anos 1930, as políticas públicas de expansão da cidade, que passavam por canalizar e ratificar rios e córregos, priorizando os carros. Enchente e trânsito são resultados dessas políticas. Não são acaso, nem naturais. E a culpa não é do PT. A situação é muito pior na zona leste da cidade, onde pessoas mais pobres perdem suas casas ou suas vidas em enchentes e desmoronamentos. Mas, como sempre, os exemplos de desgraça estão atrelados aos mais pobres, a escolha aqui é partir da miséria dos ricos. Ou melhor, da classe média a serviço do capital, que se sente rica. Para lembrar que, contra a força das águas – e da racionalidade no planejamento de políticas públicas – não basta ter os privilégios de classe média, e não há fé ou desenvolvimentismo que se sustente. Nem da prefeitura de São Paulo que, de tempos em tempos, escava em vão um pouco mais para ampliar a capacidade de escoamento das galerias. Nem do atual presidente eleito e seu ministério do

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