A dimensão possível da epifania
O poeta Horácio Costa (Reprodução)
Horácio Costa desenvolve um percurso textual que não se limita a uma única dicção ou linha de pesquisa estética: encontramos em sua obra peças de concisão aforismática, como no Livro dos fracta (“negra mina, uma segunda pele veste-me a tua presença, ao bisonte íbis jaguar”), poemas longos que dialogam com Jorge de Lima, como “O menino e o travesseiro” (“imagem invariável, flor abstrata,/ dimana uma luz de alto contraste”), composições herméticas, barroquizantes, como nos poemas da segunda metade de Satori (“Acompanho/ esta violenta partida de pólo em que jogam centauros”) e ainda peças de surpreendente leveza, próximas à dicção modernista, como verificamos no poema “A voz do Brasil” (“A realidade engana, cigana/ E a Voz do Brasil, masculina/ Mas não viril,/ Quem diria, é mesmo/ de gueisha”). A diversidade atinge o próprio campo linguístico, como acontece nos poemas escritos em inglês publicados no livro Quadragésimo, ou ainda nas peças que incorporam ao português versos e expressões de outros idiomas, numa Babel voluntária. A poesia de Horácio Costa é um labirinto de mitologias e metáforas onde encontramos Marat, Wang Wei e o sutiã preto de Cindy Sherman, entre quadros de Rembrandt e paisagens urbanas, como o túnel Rebouças: uma “realidade inventada de grafias” que mescla tempos históricos e repertórios culturais no mare nostrum da linguagem. A miscelânea denuncia o homo viator que é Horácio Costa, cidadão do mundo que morou no México, nos Estados Unidos (onde doutorou-se em Filosofia na
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