Privado: A crise como política

Privado: A crise como política
por Marcos Siscar O saeclum insapiens et infacetum! Antes mesmo da era cristã, Catulo já lastimava o caráter néscio e insosso de seu contemporâneo, o que não impedia que fosse acusado pelos opositores justamente de estar por demais ajustado a esse tempo. O aparente contrassenso tem sentido histórico específico, mas não deixa de ser revelador do caráter estratégico e antagonista que define a afirmação da crise: a responsabilidade pela crise é sempre dos outros. Dela têm feito uso parte significativa das ciências humanas e, em específico, a chamada “crítica literária”, a tal ponto que o diagnóstico, em muitos casos, tende a se confundir ou a se generalizar como sinônimo do próprio exercício crítico. Lembremos que, na última década, tornaram-se comuns as tentativas de escrever a história do fracasso ou do fim da poesia, da literatura e da própria crítica literária, em obras como Adieu à la littérature (de William Marx, 2005), Histoire de la crise de la littérature (de Allain Vaillant, 2005),  Adieux au poème (de Jean-Michel Maulpoix, 2005), Contre Saint-Proust (de Dominique Maingeneau, 2007), Réouverture après travaux (de Michel Deguy, 2007), entre outras. Não por acaso, Antoine Compagnon enxerga aí, ironicamente, uma espécie de novo gênero crítico – no qual, é claro, deveríamos incluir o próprio texto em que diz isso, La littérature, pour quoi faire? (2007), aula inaugural de sua cadeira no Collège de France. Se os exemplos são franceses, não é porque me pareça uma questão especificamente francesa, suposta mol

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