A aventura moderna de Apollinaire
Estudo para o retrato de Guillaume Apollinaire, Jean Metzinger, 1911
Se há um poeta que sintetiza bem o espírito da vanguarda do começo do século 20, na França, este é Guillaume Apollinaire (1880-1918), autor de vários poemas importantes, sendo que um deles, “Zone”, consta em qualquer lista dos cem melhores do século. Mesmo sabendo que essas listas são totalmente discutíveis – assim como uma ideia enrijecida de cânone –, este longo poema, que abre a coletânea Alcools, publicada há cem anos, é um marco da poesia moderna. Não há quem não tenha percorrido este intrincado tecido temporal, constituído a partir de um ponto de vista que salta do “eu” ao “tu”, de fora para dentro, da realidade imediata às memórias de infância, na busca de uma simultaneidade de sentidos e sentimentos.
Quando Alcools foi publicado, em abril de 1913, Apollinaire já era uma referência na vida boêmia e intelectual parisiense. Vários dos poemas que depois seriam recolhidos neste volume já haviam sido publicados em jornais e revistas, ele mesmo já havia lançado Le bestiaire ou Cortège d’Orphée, um série de 30 poemas, com gravuras de Raoul Dufy, numa tiragem de 120 exemplares (dos quais apenas 50 foram vendidos). Há algum tempo que frequentava o ateliê de Picasso, de quem foi não apenas um grande amigo, mas um importante interlocutor como crítico de arte, atividade que exerceu durante toda sua vida. Entre outras atividades, Apollinaire também escrevia narrativas eróticas, sob pseudônimo, e foi o responsável pelo resgate da obra do Marquês de Sade, como também de outros autores libertinos. Nesse m
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