A arte de conversar II
O crítico literário e professor Alcir Pécora (Reprodução)
Na última coluna, tive ocasião de falar de dois autores – Antoine Gombaud e Madeleine de Scudéry –, que adaptaram para a França, sob o governo de Luís XIV, a nova racionalidade de corte surgida nas cortes da península itálica. Em especial, referi então as reflexões que ambos desenvolveram sobre o que ficou chamado de “arte da conversação”.
Apresento, desta vez, dois outros autores franceses que trataram do assunto, no período de Luís XV ao que antecede imediatamente a revolução burguesa de 1789.
O primeiro deles é o abade Nicolas-Charles-Joseph Trublet (1697-1770), que frequentou os salões das Madames de Lambert e de Tencin e escreveu por anos no conhecido Journal des Savants. Ingressou na Academia Francesa em 1761, mas talvez por ser amigo dos jesuítas, pouco reconhecimento alcançou entre philosophes e revolucionários.
Destaco aqui alguns passos dos seus Essais sur différents sujets de littérature et de morale, que veio à luz em 1735.
Para Trublet, a conversação deve ser concebida como um meio de comunicação de ideias e de sentimentos, e, portanto, como uma valiosíssima fonte de prazer e de conhecimento. No entanto, numa linha argumentativa de ressonâncias platônicas, observa que a “imperfeição da língua” jamais pode traduzir completamente o pensamento, o que obriga o ouvinte a um processo de contínuo empenho e adivinhação, no qual apenas a inteligência dele pode compensar a falha original do meio.
Já ao considerar questões de temperamento nacional, o abade observa que pessoas ocupadas, como costumam ser os ingl
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