Violência de gênero em uma perspectiva indígena
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Mulher yanomami amamenta o filho em rede no acampamento montado às margens da BR-174, em Boa Vista (RR) (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Apalavra “violência” não existe na língua guarani. Para além de um detalhe do léxico, essa ausência também diz respeito a um modo de ser e estar no mundo que as línguas refletem. O ingresso do termo violência se dá justamente a partir da invasão colonial de 1500. Com isso, não estou afirmando que antes da invasão não havia conflitos, desavenças e afins, mas a devastação brutal de povos, línguas e costumes, perpetrada por esse processo, não tem paralelos. Esse é um trauma que persiste, pois a colonização não acabou – continua, atualizada.
A homogeneização e a universalização são dois elementos basilares para a colonização, seja pela imposição das monoculturas da fé, da sexualidade, dos afetos, seja pela presunção de uma verdade única a todo o mundo. Por isso, não é possível abordar a violência contra as mulheres indígenas sem falar da colonização que a produz.
De acordo com um mapeamento realizado pela ONU Mulheres em parceria com a Kuñangue Aty Guasu (2024), que é uma organização de mulheres indígenas guarani e kaiowá, pioneira no trabalho de documentar especificamente a violência de gênero em seus territórios, a violência contra meninas, mulheres e anciãs indígenas vem se acentuando. Dentre os tipos de violência mais presentes citados contra meninas e mulheres indígenas estão: racismo religioso, violência sexual e moral, violência doméstica, feminicídio e insegurança alimentar. Dentre os agentes dessa violência, mencionados na pesquisa, os dois principais são o Estado e os homens, dentro e f
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