Espectrologia política
Edição do mêsReprodução
Desde que Foucault forjou o conceito de “biopoder” nos anos 1970, definindo o cálculo que o poder faz sobre a vida, ele buscou evidenciar que o poder atua calculando sobre uma materialidade. Na verdade, o poder nada mais é do que uma forma de funcionar que parece abstrata, pois está em todo lugar, se imiscui em todas as coisas e, em resumo, funciona como dispositivo. O biopoder estaria na decisão sobre como esse cálculo se exerceria sobre populações, como elas viveriam, quais poderiam sobreviver e sob que condições, em vez de simplesmente corresponder à decisão de se – ou como – um indivíduo vai morrer, se por meio da pena de morte ou numa guerra. Nesse caso, ao cálculo do poder sobre a morte, Foucault deu o nome de tanatopoder, a partir do qual Achille Mbembe desenvolveu o conceito, hoje célebre, do necropoder da administração da morte que segue em vigência ao lado do poder de administrar a vida. O conceito de biopoder é muito próximo da noção de dominação tal como aparece em Adorno e Horkheimer, sendo, na verdade, um misto do que os frankfurtianos chamaram de sociedade administrada e do que Adorno veio a chamar de “vida danificada” em sua Minima moralia. De fato, o próprio Foucault reconheceu que, se ele tivesse lido os frankfurtianos, teria economizado anos de pesquisa; mesmo assim, ele foi longe ao insistir no cálculo sobre a mera vida.
Na passagem da História da sexualidade em que surgem tais distinções, uma definição acabou esmaecida ao lado das duas imponentes conceituações sobre a vida e a morte da espécie. T
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