Pé de porco

Pé de porco
(Ilustração: @photo.jaksys)

 

Um bichinho cujo nome causa repulsa, mas cujo formato do focinho, com aparência de tomada, e do rabo, em forma de saca-rolha, traz alegria de ver. E, tadinho, de comer. Estive muito ligado a esse animalzinho desde que me conheço por gente. Na visão da minha avó e da minha mãe, pela força com que elas me comparavam a ele. Já na visão dos meus perversos irmãos e do meu cunhado, pelo excesso de gordura mesmo. Eu era gordo, ponto. Mas me sentia extremamente ofendido com isso.

Aconteceu nas férias anuais quando nossa família viajava para aquele lugar maravilhoso, que só se chegava ao atravessar a balsa depois de horas de espera, e onde havia uma casa grande com um pé de goiaba bem em frente à janela, no final do estacionamento, antes de chegar à sala. Naquele ano, me irritei profundamente com as abusivas brincadeiras e apelidos que os irmãos e o cunhado me colocavam e fingi e simulei uma fuga para bem longe.

Todos ficaram preocupados, pois já estava escurecendo e nada de eu aparecer. Foi aí que o pior dos ofensores, um dos meus irmãos, foi até a janela e me descobriu escondido entre os galhos da árvore. Rapidamente, ele anunciou a todos da casa aquela maravilha na natureza: a goiabeira não era mais um pé de goiaba e, sim, um pé de porco. Todos descobriram meu esconderijo e, não se contendo, caíram na gargalhada. Eu continuava bravo, mas acabei também não aguentando mais sustentar tanta irritação e comecei a rir da piada. Nós nos abraçamos e encerramos desentendimento.

por Marcos Massao

 


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