Palavras aladas
(Arte: @fsaraiva)
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“A ele respondeu a deusa, Atena de olhos esverdeados:
‘Então dir-te-ei estas coisas com verdade’”.
Odisseia, canto I, tradução de Frederico Lourenço.
No primeiro semestre deste ano, a Cult foi convidada a participar do projeto Café Literário, desenvolvido na Penitenciária Dr. José Augusto Salgado II, no município de Tremembé, em São Paulo. Idealizada pelos próprios detentos e realizada pela direção do Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde da instituição, a iniciativa promove, desde 2016, não somente palestras com escritores, como também oficinas literárias e discussões sobre literatura conduzidas por professores e agentes culturais.
No último dia 16 de agosto, o editor da Cult, o jornalista Welington Andrade – doutor em literatura brasileira pela USP e professor-titular de língua portuguesa da Faculdade Cásper Líbero – esteve em Tremembé para ministrar a oficina “Texto, tecido, tessitura”, que tratou do valor substantivo da palavra literária e de suas articulações e entrelaçamentos com os mundos ficcional (o ficto) e real (o fato).
O encontro reuniu 48 participantes, que dedicaram à empreitada uma atenção e um nível de participação – ativa, consequente, interessada – pouco vistos em muitos ambientes formais de educação que existem por aí. O proponente da oficina tinha, pelos anos de experiência docente acumulada, muitos conhecimentos para compartilhar, mas tanto ele como o assistente que o acompanhou, o jornalista Paulo Henrique Pompermaier, adquiriram ao longo daquele dia um saber com o qual domínio teórico algum consegue rivalizar: o de que todo ser humano tem o direito de querer construir um outro futuro.
A partir de hoje, a seção “Palavras Aladas” irá publicar os textos nascidos daquela oficina, divididos em três seções: contos, crônicas e poemas. O objetivo é mostrar que o discurso literário – ainda que em caráter diletante, experimental – pode projetar o desejo de uma sociedade melhor: mais justa, mais feliz, mais humana.