As epístolas de Paulo aos seus contemporâneos
(Foto: Marcus Steinmeyer)
Num intelectual como Paulo Arantes residem muitas faces. Ele é brilhante em quase todas. Sua obra é algo como uma invenção intensa de si mesmo num mundo em escombros. E isso explica muito da unidade desconcertante desse ser multifacetado. Seus escritos vão da difícil decifração de uma tese original sobre Hegel ao fascinante conteúdo dos ensaios de Ressentimento da dialética: dialética e experiência cultural em Hegel (1996). Eles incluem formas estranhas de prosa, da entrevista-livro O fio da meada: uma conversa e quatro entrevistas sobre filosofia e vida nacional (1996) à radiografia dos tempos acelerados do apagão nacional dos anos 1990, nos governos de FHC, presentes em Zero à esquerda (2004). Mas Paulo Arantes é também, e cada vez mais, uma figura à vontade em lives, em que a oralidade vai compondo interpretações e insights que cabem nos melhores momentos do pensamento crítico que por estas terras se produz. E há ainda um Paulo cujo único registro que temos é o da memória de quem o ouviu. Na soma de tudo, um autor esotérico, pois o que ele pensa não tem nada de simples nem de facilmente digerível. A questão de quão hermético é o acesso aos seus escritos e da matéria pesada do seu pensar não é um problema de afetação de um estilo difícil, mas um labor de compreensão da realidade que beira a obsessão. Como poucos, Paulo enxergou o que estrutura essa realidade e compreendeu a dinâmica que a empurra para o abismo. Além disso, tal reflexão sobre uma sociedade periférica no olho do furacão na era da crise estrutu
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