O que estou lendo

Estou lendo Só para Mulheres (Rocco), uma coletânea com textos de Clarice [Lispector], do período em que ela escrevia para jornais. Ela, com certeza, não concordava com tudo que escrevia, tanto que usava um pseudônimo. Ela dava conselhos caretas para mulheres, mas de um jeito incrível, então é engraçadíssimo ler o livro. O texto de apresentação diz que a obra é a prova de que as mulheres se preocupam com a beleza. Eu acho que é o contrário: este livro é a prova de que elas não estavam nem aí.

Karina Buhr, cantora. Gravou o disco solo Eu Menti pra Você (gravadora independente, 2010).

Atualmente leio com entusiasmo o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português (Leya), que apresenta vários aspectos e quase todos os personagens ligados ao poeta de Mensagem e sua época. É um trabalho muito bom, que contextualiza – sem resolver – o enigma estético desse genial poeta lusitano. E como sou dado a misturar leituras, também estou lendo A Literatura em Perigo (Difel), de Tzvetan Todorov, que nos revela quanto a crítica literária é uma atividade delicada.

Fernando Paixão, poeta. É autor de Palavra e Rosto (Ateliê, 2010) A Parte da Tarde (Ateliê, 2006), entre outros.

Desde que As Benevolentes (Alfaguara), de Jonathan Littell, foi lançado, estou para lê-lo. É um livro escrito em primeira pessoa, o relato de um ex-oficial da SS que fugiu para a França, viveu como se tivesse apagado esse passado e resolveu fazer uma confissão simulada. Essa ideia de criar uma narrativa em que o leitor mergulha totalmente é muito inspirada em Dostoiévski. É um livro de que estou gostando bastante, pela questão da autobiografia e do romance histórico, ou seja, pela maneira como o romance histórico é revalorizado, já que ele estava em baixa nos últimos anos.

Márcio Seligmann-Silva, crítico e teórico literário. É autor de Ler o Livro do Mundo (Iluminuras, 1999) e Para uma Crítica da Compaixão (Lumme, 2009), entre outros