A crítica radical de Maio de 1968
Cartaz impresso no Atelier Populaire: “Nós somos o poder”, 1968 (Reprodução)
A cinquenta anos de distância, ainda não é fácil entender como um pequeno movimento de estudantes na periférica Universidade de Nanterre, depois transferido para a tradicional Sorbonne, conseguiu iniciar uma revolta que, em pouco tempo, paralisaria inteiramente uma das maiores potências do Ocidente capitalista. A reação policial, atabalhoada e brutal, cumpriu, claro, seu papel. Da repressão nasceu a solidariedade que fez o movimento crescer. Mas havia algo a mais no ar daquele mês de maio de 1968, algo como um passado contido que queria romper suas barreiras. Era o que se via na resistência dos manifestantes que enfrentavam os CRS, a tropa de choque francesa, nas lutas em volta da Sorbonne ocupada. Cortando árvores e amontando os paralelepípedos arrancados do calçamento, eles davam nova vida a uma velha invenção característica das revoluções que haviam sacudido Paris no século precedente: a barricada. A rua não era mais dos carros, que serviam agora apenas de obstáculos auxiliares à passagem da polícia. Tombados de atravessado nas vias, emprestavam às ruas um divertido contorno labiríntico, tão oposto ao frio desenho dos bulevares. Era a vingança sobre o urbanismo de controle social do Barão de Haussmann, a reinvenção da revolta como festa, que tinha até seu novo jogo da moda: o arremesso de paralelepípedos. O gesto inaugural dado pelos jovens parecia ter feito desabar um castelo de cartas. Um a um, cada setor da vida social paralisou-se. Era como se o tempo tivesse parado. “O tempo capitalista foi interrompido”, escreveu no me
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