Raiva, mobilização, invenção

Raiva, mobilização, invenção
(Arte: Andreia Freire)
  Doutorado na sociologia da USP. Título de respeito, difícil de conquistar. Este texto é sobre uma mulher negra que o recebeu em novembro de 2017. Vamos chamá-la M, que não é a inicial de seu nome, para preservá-la. Nordestina, fez o ensino médio em uma escola pública, cursou ciências sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), veio para São Paulo fazer mestrado na Faculdade de Direito da USP e doutorado na FFLCH. Daquelas histórias que tantas vezes acompanham o discurso da meritocracia. No último ano de doutorado, para a escrita da tese, M voltou à sua terra natal acompanhada do marido, desempregado. Lá, ela não precisaria pagar aluguel, pôde morar no conjunto habitacional herdado da mãe, que cuidou dela sozinha até morrer de um AVC, quando a filha tinha 17 anos de idade. Com bolsa, no início concedida pela Capes e posteriormente pelo CNPq, dedicou-se à escrita da tese. Ao término da bolsa, sem conseguir emprego, passou a prestar serviços gráficos, foi consultora na área de cosméticos, vendeu biscoitos artesanais. Em condições precárias, terminou o texto. Mas não tinha dinheiro para vir defender a tese. Não havia recurso próprio, nem da universidade, nem de instituições de fomento. Amigas e amigos de M organizaram uma vaquinha, pedindo contribuições para arcar com os custos da passagem. Há inúmeras pesquisas que mostram como, desde a abolição, pessoas negras contam com a solidariedade de sua comunidade para sobreviver. Mas choca reafirmar que essa ainda é uma realidade, mesmo quando se é doutor

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