Incertezas políticas e a relacionalidade

Incertezas políticas e a relacionalidade
A fotógrafa Ana Carolina Fernandes documentou o cotidiano de travestis em um casarão na Lapa, no RJ (Ana Carolina Fernandes/DOCGaleria)
  Se a teoria da performatividade do gênero, de Judith Butler, tornou-se uma via de inspiração para a abertura de novas possibilidades a respeito de como desnaturalizar o gênero, uma das noções centrais que fundamentam tal gesto é, sem sombra de dúvidas, a de sua ressignificação. Como a autora assinala, em sua obra seminal, Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade, de 1990, publicada no Brasil em 2003), e depois em Bodies That Matter. On the Discursive Limits of Sex, de 1993, ainda não traduzido no Brasil, o gênero não seria apenas a expressão normativa, normalizada ou, ainda, naturalizada de um suposto sexo que seria prévio ao gênero. Mais especificamente, o gênero, a partir da perspectiva performativa, seria concebido como aquele conjunto de normas mediante as quais qualquer corpo adquire um sexo legível segundo o cânone do binarismo genérico. Isto é, uma das contribuições centrais de Butler para a discussão de gênero foi argumentar que o dimorfismo sexual, concebido como uma instância natural, já é, ele mesmo, produto do sistema binário de gênero. Neste sentido, a seguinte contribuição da autora consistirá na afirmação de que o gênero não é um atributo ao qual estamos predestinados, mas, antes, que ele está sendo feito e refeito de maneira constante. O gênero, sob este viés, não “é”, mas, em todo caso, se produz em e através dos corpos, mediante a repetição ritualizada das normas que estabelecem o modo como iremos nos comportar enquanto sujeitos generizados. A partir disso, se o gênero é o e

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