A transexual Gisberta Salce Júnior segundo o poeta Alberto Pimenta
(Arte Andreia Freire)
Gisberta Salce Júnior, mulher transexual brasileira, foi assassinada em 2006, aos 45 anos, na cidade do Porto, em Portugal. Ela enfrentava problemas: era soropositiva, vivia nas ruas, carecia de visto para permanecer no país e havia contraído tuberculose. Adolescentes de uma instituição católica torturaram-na por três dias; crendo que ela morrera, atiraram-na em um poço de quinze metros. Ela ainda vivia, porém, e se afogou.
Os adolescentes não foram considerados culpados por homicídio, sob o pretexto de que a morte ocorrera por afogamento. Com o impacto do bárbaro crime, os movimentos sociais de gênero conseguiram mudanças legislativas: em 2011 aprovou-se a primeira lei portuguesa de identidade de gênero, substituída em abril de 2017.
O livro Indulgência plenária (& etc), de Alberto Pimenta, publicado em 2007, compõe-se de um poema longo dividido em cinco seções, todo dedicado a esse caso e à recuperação da voz de Gisberta Salce. Em 2015, ele saiu no Brasil pela editora Chão da Feira reunido a outra obra poética de Pimenta, para o qual escrevi uma apresentação.
O poeta inicia o livro com um encontro com Gisberta em um banheiro de aeroporto, onde ela entrou por “saudade” do mictório dos homens. A segunda e a terceira seções referem-se a sua doença e à hipocrisia social: “e a partir daí/ os poetas da cidade os seus referentes culturais/ passavam e olhavam para o lado/ quando te viam” e denuncia a cidade: “mas não conhecias as muralhas/ que te encarceravam/ nem os graffiti suásticos/ que as cobriam”; “O q
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