No silêncio eloquente da página

No silêncio eloquente da página
Cidade natal do escritor, década de 1930 (Arquivo Prefeitura de Pindorama)
  Pouco importa como você chegou até o texto de Raduan Nassar. Cada linha percorrida reduz suas chances de sair incólume dessa leitura. Comigo, foi assim: numa sala pequena, em meio à efervescência do Salão do Livro de Paris, o autor deu voz a trechos de Um copo de cólera. Ali acabava, abruptamente, o doutorado que eu vinha desenvolvendo sobre as traduções de Guimarães Rosa. Eu não poderia não trabalhar sobre os textos de Nassar. Maktub. Clássico, porque sempre contemporâneo, o Verbo nassariano, com seus requintes alquímicos, subverte os limites do tempo e do espaço. Assim, mais de quarenta anos após a publicação de Lavoura arcaica, não causa espanto nem a edição da obra completa (com sua “safrinha” inédita em língua portuguesa), nem a consagração internacional. Já as narrativas de Nassar, essas sim, seguem fomentando não só espanto, mas cólera, desejo, angústia, perplexidade, volúpia e tudo mais que as paixões e os sentidos sejam capazes de criar no laboratório do nosso corpo. Acrescente-se a isso o desafio constante lançado à nossa razão pelo ritmo inebriante, pela ousadia na profusão de signos, pela calculada desmesura e concisão da linguagem. Estão postas as bases para que a leitura nos subtraia ao mundo que nos cerca e nos proporcione uma experiência radical de alteridade, ao encontrarmos personagens que nos farão viver o que de mais belo e de mais tosco cabe no ser humano. Essa “vibração da vida” também é insuflada pela subversão de fronteiras entre textos, graças a frases de escritores como Noval

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