A terceira margem do signo
(Andreia Freire)
Nada mais enigmático do que a linguagem, espécie de nuvem simbólica que envolve tudo o que pensamos, respiramos, comemos e... dizemos. E por mais que tentemos falar dela, domá-la, controlá-la, ela se esvai entre os nossos dedos deixando escapar a própria significação, a qual demanda um outro ato de fala e assim infinitamente. É que a linguagem não é um “instrumento que usamos para nos comunicar”: ela se mistura com a vida, serve para viver. E quando tentamos falar dela, eis que já estamos enredados em sua própria teia.
Mas se hoje aceitamos com mais facilidade esse lugar paradoxal da linguagem, a verdade é que durante muito tempo tentamos dominá-la, dar a ela um estatuto puramente objetivo, apagar as nuances que a tornam significativa, enfim, submetê-la a um conjunto de determina- ções que apenas nos afastava mais de sua natureza.
Não por acaso, essa dificuldade de delimitação da linguagem confundia-se com a dificuldade de delimitação da própria obra do seu grande teórico, Ferdinand de Saussure. Ao longo do século 20, conhecemos vários “Saussures”: o professor suíço, aquele da edição de 1916 feita pelos seus alunos (Curso de Linguística Geral), o mais completo da edição com as fontes e os manuscritos de 1957 e, finalmente, aquele dos Escritos de Linguística Geral de 2002 onde, digamos assim, começa nossa história.
É que logo depois da publicação dos Escritos e como um passo decisivo da historicidade dessa transformação de Saussure, Patrice Maniglier publica A vida enigmática dos signos – Saussure e o na
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