Flammarion Vieira

Flammarion Vieira

Escrevi o texto abaixo para alguma exposição do Flammarion Vieira. Flammarion é muito conhecido, mas quem não o conhece que aproveite pra conhecer. Aqui tem mais:

http://www.flammarionvieira.com/
www.flickr.com/photos/clubecafe2125
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1obrWb7xrR8

Flammarion, caixa de surpresa e sonho

Flammarion Vieira é um amigo muito querido de várias pessoas, inclusive meu. Isso poderia facilitar o que se pode dizer sobre ele, pois sabemos que nunca é fácil falar sobre um artista e sua arte, mas é sempre fácil falar de um amigo a quem se quer muito bem. Basta dizer as melhores coisas com a intensidade do bom afeto que constitui uma amizade verdadeira. No caso de Flamarion, a coisa é simples e complicada ao mesmo tempo. Sendo ele um amigo/artista é fácil falar do amigo e difícil falar do artista. Só que, no seu caso, as duas coisas não se isolam uma da outra e, de repente, é o artista-amigo, o amigo-artista, que é preciso observar com delicadeza.

Gosto demais da obra de Flammarion que conheci – e experimentei – antes de conhecê-lo. De tudo o que ele faz, dos quadros aos colares, às caixas onde ele guarda as colagens e os colares, tudo é admirável, impressionante, curioso. Tenho algumas peças de Flammarion e duas dessas caixas de surpresa e sonho que guardo comigo como se deve guardar um raro gabinete de curiosidades. Em momentos muito especiais e raros, tiro os colares de dentro delas e me sinto parte do imaginário que ele constrói com este método curioso, sobre o qual não me canso de perguntar, sem jamais achar resposta.

As peças de Flammarion são obras de arte peculiares. Algumas põem-se na parede, outras põem-se no corpo, nas orelhas, nos braços, nos dedos, no pescoço. Ou tudo ao mesmo tempo. Quem as usa acaba por sentir-se parte da colagem, um elemento da composição do mundo de Flammarion, que é também o nosso. Prestando bem atenção aos mundos de Flammarion, vemos o nosso mundo trivial com outros olhos. O mundo que se mostra por outra lógica é agora o nosso: um mundo colado, bricolado, ressignificado, um mundo em que a gente também não deixa de ser imagem, mas pode brincar com espelhamento, o fato barroco da vida.

Flammarion é um amigo dos mais deliciosos, mas é também uma espécie de máquina de produção infinita. Pergunto-me como deve ser sua relação com a imagem. De onde estabelece as conexões entre os seres e as coisas, os animais e as fotografias, o cinema e as revistas de onde tira seus personagens e temas. Vejo que sonha acordado colando os pedaços de um mundo fragmentado para que nós possamos sonhar de novo.

Querubins, caveiras, dragões e libélulas, carros, kombes, bicicletas, corações sagrados, orixás, a praia, o circo, o rock… o impossível Henry Darger e a inesquecível Frida Kahlo são entidades que não poderiam faltar a esta festa visual nada inocente e, no entanto, tão livre de maldade.

Não é um mundo só, mas os diversos mundos possíveis entrelaçados para nosso deleite. Onde, como uma criança brincando no sotão entre sonhos e pesadelos, sabemos que a vida é fantástica, plástica e escapa do mero espetáculo publicitário do mundo. É o mundo da arte que nos acorda para alguma coisa ainda viva.

Flammarion é este mundo infinito onde podemos brincar com o que vemos, desmontar e montar o nosso jeito de ser.

 

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