Privado: Sobre Twitter e Severinos

Privado: Sobre Twitter e Severinos
(Imagem: reprodução)

Marcia Tiburi

O Twitter é mais do que a marca de uma ferramenta atualíssima da era digital, é mais do que o microblog em que milhões de pessoas se divertem, é mais do que uma rede social em que informações são partilhadas. Ele é também a expressão estrangeira que migra da vida digital para a vida não digital (como deletar, start e e-mail) e que, como palavra-brinquedo, é usado para enfeitar ou facilitar a fala quando se trata de não despender muito esforço de expressão. Palavrinhas substitutivas, tão bem-vindas como estrangeirismos, sejam eles turistas ou exilados em nossa pátria, obrigam a pensar uma economia política da língua, ou seja, a questão da produção da linguagem, do valor que damos ao que dizemos, e do poder objetivo do discurso no tempo da expressão colonizada.

Proponho, nesta linha, traduzir o texto do Twitter, feito linguístico de 140 caracteres, pela palavra “piada”. Se é correto traduzir Twitter por “piador”, e se é possível dizer que, cada vez que um pássaro pia, temos dele uma “piada”, eis que se mostra o conceito-imagem claro do Twitter: ele é o espaço ideal do dito engraçado ou espirituoso. É esse dito que vale como graça, como palavra final, ou como grande iluminação que faz sucesso entre os usuários da plataforma. Piada é também o chiste. Chiste, por sua vez, é palavra que, assim como Twitter, tem origem onomatopeica. Piada, no entanto, também pode ser o estertor sem sentido, o chiado no corpo dos animais que anuncia doença ou morte. Mas até aí nada demais, pois uma piada, para sê-lo, não precisa necessariamente ter graça. A questão, no entanto, ainda é outra.

O Twitter radicaliza a natureza babélica da língua, o que nela é balbuciante e inarticulado. O uso de onomatopeias e abreviações nos textos de seus usuários é prova da experiência pré-articulada com a linguagem. Se a fala articulada é o cerne de toda relação e o que lhe dá base política, não fica difícil imaginar que o Twitter privilegia algo como uma antipolítica. Responder hoje à pergunta “o que está acontecendo?” não diz respeito ao que penso, nem ao modo como interpreto o mundo, mas deve reduzir-se ao que eu mesmo experimento no aqui e agora dos fatos. A ação é reduzida à narrativa protocolada em 140 caracteres. É, portanto, transformada em slogan.

No entanto, posso dizer que um slogan é política? Apenas naquele sentido afirmado por Antonin Artaud de que a propaganda é a prostituição da ação. Política vendida, ou prostituída seja a que preço for, eis o que temos ali como potência protocolada. O Twitter mostra assim sua alma publicitária diante da qual o diálogo como forma básica da relação verdadeiramente política é impossível.

Um cofrinho na economia política da fala

A tecnologia tem como efeito existencial a amputação do tempo de nossa experiência. Em nossa cultura digital, a velocidade é proporcional ao encurtamento do tempo que era experimentado antes nas trocas orais. A humana necessidade de conversação não é nada diante da administração discursiva da qual fazemos parte. O tempo da oralidade é justamente o que, podendo ser cortado sob a alegação de improdutividade, não fará falta na economia política da fala. Ao reduzir a potência da narrativa a 140 toques (considerando espaços entre palavras), o que o Twitter providencia é a imersão em um suposto tempo presente.

A restritividade da linguagem devém da experiência com o tempo, esse deus morto a pauladas em nossos dias. No Twitter a restrição é protocolarmente administrada por sua própria reprodutividade em um toque final que, ao mesmo tempo que mudo, é também o mais falante: “send”. Esse toque de número 141 não é computado pelo sistema, ele representa seu lucro, a prova de que é o sistema quem ri por último. Ponto final na piada pronta a que é reduzida a liberdade de expressão, ao mesmo tempo incompreensível para usuários ingênuos.

Nesse contexto, podemos falar do caráter de avareza do Twitter. Ele é contenção da expressão e da comunicação, cujo efeito é a histeria ansiosa que surge como escape pela expectativa dos sujeitos do Twitter, os twitteiros, pelo número de followers, retwitters, lists. Na lógica do lucro reduzido à linguagem, tudo é contado como num cofrinho em que cada letra-moedinha é guardada como um ponto no desejo de reconhecimento que sustenta as comunidades da internet. Economizar palavras é o jeito de inscrever-se na ordem simbólica desta comunidade espectral em que dizeres não valem nada no grande varal pan-óptico das frases feitas. O preço da entrada em espaço tão exíguo é pago com a expressão extirpada sob a alegação da síntese partilhada. O troco é devolvido em histeria por mais “seguidores”, discípulos do esvaziamento do vivido diante do modo de expressá-lo.

O Twitter é a forma ideal do nexo entre capital e discurso e, na banalidade do cotidiano, moedinha acessível para vastos grupos que já dominam aparelhos tecnológicos na efetivação de uma era democrática digital. Discurso é, por sua vez, a forma própria do poder que, desde que temos notícia, define tanto formas de governo quanto as mais micrológicas relações humanas. A base do poder discursivo é biopolítica, pois o poder do discurso vem de uma determinada articulação da voz que, como corpo que é sob a aparência de espírito, penetra outros corpos indo reverberar neles como verdade espiritual. O que ouço é sempre incorporado e transformado na alquimia oculta deste espaço existencial chamado corpo. Corpo, no entanto, é aquilo que se perde ou se joga fora nestes tempos digitais em que a ponta dos dedos projeta o mundo. Para os mais otimistas, contudo, a ponta dos dedos pode “cutucar” o sistema com frases perturbadoras.

Será possível escrever poesia depois do Twitter?

O Twitter representa o uso constrangido da linguagem elevado a regra. É a lírica da “piada”. Pode soar divertido para quem não se importa com o parnasianismo do padrão, para quem sente prazer, por outro lado, com o romantismo dos fragmentos, mas pode parecer, para quem pensa na potência revolucionária da linguagem, um mero brete. Cheirando a regras de versificação mesmo que faltem os versos, a estrutura fixa em 140 caracteres sugere um formalismo de metrificação rigorosa. Passar à percepção do caráter sacro da forma não é exagero diante da interdição de um “toque a mais” com o qual não é possível acionar o mágico “send” que permite a visualização das mensagens. Impede-se, assim, a desmedida, a errância que a poesia sempre potencializou como terra de palmeiras onde canta o sabiá e que a internet como campo – e como lugar de exílio em relação à vida – de exercício político veio substituir.

O Twitter parece, como estrutura formal, oferecer o veneno-remédio para o exercício da expressão: limitando-a, ele acaba por permiti-la, mas permitindo-a conclui por impedi-la. Enovela, assim, a sua ação num paradoxo. Desse modo, o Twitter mostra poesia estranha, como uma espécie de lírica do banal, ou a antilírica totalmente desejada pelos “seguidores”. Os pássaros que gorjeiam no Twitter não têm a mesma chance em nenhum outro lugar da internet. O Twitter é, assim, mais que o tempo-espaço da banalidade do poético, a própria
poética da banalidade. Lírica do banal, ele promete a expressão de uma subjetividade apagada pela forma. Haverá ali a esperança de que um dia, para além do espectro do grupo, estejamos finalmente juntos? Mas quem pensa que líricos do vazio querem encontro se engana. A prática que sustenta o Twitter é a garantia da avareza do dizer como um prazer, característica básica de uma cultura cujo desejo de voz e, portanto, de poder foi colonizado.

O cinismo é inevitável na noção de política que surge nesta rede de relações: não partilhamos grandes direitos, mas pelo menos temos alguma coisa em comum: 140 toques. Twitteiros, somos todos Severinos. A poesia como metáfora da esperança de uma vida boa e justa não cabe no Twitter, “cova medida”, ao mesmo tempo que é a “parte que querias ver dividida”. Alerta sobre o espaço que cabe a cada um no infinito latifúndio da internet.

(34) Comentários

  1. Não foi o Twitter que forjou a forma de escrever que o próprio utiliza. Foram os chats, que começaram há uns 15 anos. Nem mesmo o limite de 140 toques tem origem no Twitter e sim na observação da contestação de textos longos em chats.

    Não creio que essa forma de escrever mude algo significativo em quem já era habituado à escrita e, sem dúvida, ela é uma forma de inclusão, ao permitir a tantos que se expressem por escrito, o que antes dessa forma não o faziam.

    Também não creio na colonização da língua, exceto se vista xenofobicamente. A língua tem que ser livre, o máximo possível, se ela se sujeitasse a esses limites, desde tempos imemoriais, hoje seria muito pobre, em todo o planeta. O nosso português culto já foi o latim pobre, popular, nem por isto deixou de ser uma bela e rica língua, com as transformações que recebeu.

    No mais, concordo com o que você escreveu, exceto em detalhes sem importância.

  2. É isso aí, como pensamos que vai ser, tão estranho e igual, quando nos voltar o paradoxo do “verdadeiro bem estar”.
    Um diálogo tão sério como brincar, tão brincando como uma criança realmente crescendo, por compartilhar pequenas e imensuráveis dúvidas legítimas.
    A forma bem comum porque não haveria outra de economizar uma linguagem que também por si apenas multiplica o sentido da vida.
    A expressão nem exploratória, tampouco “colonizada”. E, afora a teimosia e o chilique, que muitas vezes é um único canal de comunicação possível, entre quem, como as crianças, ainda não apreendeu os códigos e manhas dos pretensamentes adultos e “donos” do conhecimento.
    Não é só o que acontece quando se sabe, e, de alguma forma muito íntima, sente-se como se não pudesse comunicar tudo que se quer, o que então, seja doença ou capricho, não importa, é uma política daquela que fala, propõe o gesto ou marca sua presença? A infância, seja a qualquer idade, sempre é um pedido ou a venda clara da própria imagem, como se fosse um recém chegado de lugar estrangeiro, ou que se quer alhures. É o sentimento abrindo espaço, quase sempre com muita ansiedade, no reino e caos dos desejos. E estes apenas se acumulam quando não satisfeitos, porque sempre tem duas únicas evoluções, como fins: o esquecimento ou se transformar em sentimentos. Lembrando que os desejos nunca podem ser isolados nem no corpo nem no “psicológico”, porque não há tal separação.
    O termo sentimento é exatamente o compartilhamento em equilíbrio do corpo e mente.
    “A restritividade da linguagem devém da experiência com o tempo, esse deus morto a pauladas em nossos dias.”
    O devir de Heráclito nunca se tornou tão evidente e ao mesmo tempo tão antiquado, e logo nunhuma criança sonhará com Peter Pan, porque já dormirão para sempre este produto também da “ficção” tecnológica. E a “morte e vida Severina” tanto deixará de ser metáfora poética de uma realidade mais crua e honesta, quanto se tornará a mesma impossibilidade da poesia e da ética, em Cabral, para se findar em cova rasa, só porque jamais a cavamos, por preguiça ou inapreensivo prazer.
    “O cinismo é inevitável na noção de política que surge nesta rede de relações: não partilhamos grandes direitos, mas pelo menos temos alguma coisa em comum: 140 toques.” Quase o mesmo que dizer: no twitter, voltamos à infancia, sem recuperar os mesmos direitos; quando estes são respeitados.
    Um forte e profundo abraço, Marcia Tiburi.

  3. A crítica tem pontos interessantes, mas no geral parece cair em um niilismo reativo, que confesso não acreditava até o momento ser a praia da Tiburi. Em tempos de “saia justa”, não sei se “cutucar” seria algo tão simplório quanto ela coloca. Brecht talvez chamaria de “refuncionalizar” (como Benjamin bem destacou acerca do Teatro Épico). Flusser diria “reprogramar os aparelhos”. Talvez Tiburi creia que tais perspectivas, ao tratar a questão, sejam motivadas apenas por um otimismo ingênuo diante da “cova medida”, mas não penso que os fragmentos (vide Schlegel e Novalis) carecem de força por falta de uma estrutura sistêmica. Quem sabe não esteja aí a porta aberta por onde novas ideias possam surgir?

  4. respondendo se haverá poesia depois do twitter: só não será como já é (está acontecendo). além de ser o twitter ferramenta-meio de se encontrar novos poetas (artistas) fora dos tradicionais e controlados (utilitários e instrumentalizados) meios de comunicação, onde as mesmas e carimbadas figuras circulam. seria interessante um aprofundamento prático sobre, já que o teórico está fundamentado na banalização do desconhecido. as surradas estruturas estão sendo questionadas, estão perdendo a primazia e a propriedade do conhecimento. o que nisso vai dar, ninguém ainda sabe, ou só as cassandras.

  5. Interessante a discussão, uso muito internet pra trabalho e pessoal,mas eu nao uso Twitter, não tenho nenhum amigo que usa e acho um pé no saco. Ah.. eu gosto muito de poesia. Calma gente, o mundo ainda é múltiplo…

  6. É realmente impressionante a forma como se vive na internet. Em um mundo pós orkut/twitter/msn/e afins, tudo está ficando mais diversificado e ao mesmo tempo homogêneo.
    Não só a troca de idéias, como também o convívio está sendo reduzido a alguns caracteres.
    A obrigação de se compactar idéias e fazer com que elas sejam “re-cutucadas” por quem às vê está aí e é muito bem aceita.
    Difícil será aceitar que quem as “re-cutuque” seja um moderadores crítico…o que se tem visto na verdade é a propagação de frases sem nenhum conteúdo interessante e que apenas jovens de culturas frágeis e pobres transformam em algo generalizado.
    Tristes fins daqueles que prezam conteúdo e se vêem entupidos de “twits” e “tags” da modinha jovem.

  7. Vivemos numa eterna mudança. Twitter hoje, amanhã sabe-se lá o que virá. São tantas as verdades que parecem imutáveis, que quando o que pensávamos eterno, caem barranco abaixo. Nada é eterno, muito menos num mundo onde manda quem pode e todo mundo obedece. Com o sistema opressivo, temos cada vez menos oportunidades de parecer diferente, pois podemos ser rechaçados e ‘expulsos’ de um convívio natural e saudável.

    E pra que queremos estar no meio de tantas pessoas iguais e ao mesmo tempo diferentes? DEvemos viver a liberdade que adiquirimos com muito e$forço.

    A linguagem muda, mudam nossa ortografia, mas a facilidade e o encurtamento de caracteres, nos faz pensar mais para escrever menos. Ou será que pensamos menos e escrevemos menos ainda? São dúvidas que só quem viver responderá. Se é que teremos mais do que 140 dias de vida.

  8. Não tenham medo do twitter, é uma das formas de linguagem do escritor contemporâneo. E viva o frasista! Hoje mais é menos, não há tempo de ler comentários longos nem textos prolixos diariamente…

  9. O Twitter raz a subversão da ‘conquista do presente’ – é um RSS em tempo real de toda a internet e também uma ‘mesa de bar’ (um centro de convivência informal) onde escolhemos com quem, e sobre o quê, twittamos!
    Como efeito disso, o nosso universo no Twitter – embora real (isto é, feito de pessoas reais), se virtualiza a tal ponto que dispensa nossas energias reais, nos exigindo só as virtuais (compostas não sei mais de quê): por isso o #forasarney resultou no fortalecimento do cara! o #CALABOCAGALVAO não calou o narrador e no #diasemglobo a emissora manteve a audiência normal.
    Tantos twitts que, ao mesmo tempo em que forma um denso, diversificado e dinâmico cardume, acaba resultando também numa enorme baleia encalhada.
    É só o começo. Temos 140 caracteres para encarar o desafio…

  10. Ao perceber que estariam “vendo de perto” esse tipo de coisa, começou a migração para o Twitter. Agora, os fãs estão mais pertos de seus ídolos, sabem o que estão fazendo, na hora que estão fazendo. Gera uma sensação de poder sobre o ídolo. Afinal, eu sei o que você está fazendo. O Twitter possibilita, inclusive essa interação fã/ídolo e a facilita, basta escrever @ seguido do nome de usuário do famoso e a mensagem logo em seguida e o que lhe separa da Xuxa, por exemplo, é só um Enter. Não é difícil entrar no perfil de qualquer celebridade e perceber mensagens otimistas de um fã esperando por uma resposta: “@fulano olá, adoro seu trabalho”, “bela foto @beltrano”.

    Ao entrar no Twitter, fácil fácil uma celebridade angaria de setenta a cem mil seguidores em um dia. Não que todos os seus seguidores sejam fãs, apenas seguem para estar atento à bizarrice que irá acontecer.

    Agora você não precisa mais esperar o passarinho azul te contar aquele babado, porque você pode estar do lado dele e presenciar por si mesmo.

  11. (com correções)
    O Twitter traz a subversão da ‘conquista do presente’ – é um RSS em tempo real de toda a internet e também uma ‘mesa de bar’ (um centro de convivência informal) onde escolhemos com quem, e sobre o quê, twittamos!
    Como efeito disso, o nosso universo no Twitter – embora real (isto é, feito de pessoas reais), se virtualiza a tal ponto que dispensa nossas energias reais, nos exigindo só as virtuais (compostas não sei mais de quê): por isso o #forasarney resultou no fortalecimento do cara! o #CALABOCAGALVAO não calou o narrador e no #diasemglobo a emissora manteve a audiência normal.
    Tantos twitts que, ao mesmo tempo em que formam um denso, diversificado e dinâmico cardume, acabam resultando também numa enorme baleia encalhada.
    É só o começo. Enquanto houver gente, haverá alguma poesia. Temos 140 caracteres para encarar o desafio…

  12. What’s happening? -257

    “A internet toma conta da grande parte dos meio de comunicação e expressão, não substitui os que já existem. Agregam e facilitam. O problema não é a ferramente, mas sim o usuário dela. O segredo está nas mãos da pessoa sentada na frente do computador. Assim como aquele que está escrevendo a matéria do jornal de amanhã, ou o próximo best seller, a diferença é a falta de filtros para a publicação.”

  13. O Twitter vem perdendo seus atrativos com o passar do tempo. O que antes era uma pergunta banal “o que você está fazendo agora?”, virou um meio interessante e bastante eficaz para disseminação de informações relevantes. Com a incorporação do “Rt oficial” e dos “Trending Topics” tudo o que se vê são os humoristas de plantão que tentam, e falham miseravelmente, fazer graça em toda e qualquer postagem para serem “retuitados” o maior número de vezes e outros que usam os termos mais postados fora do contexto, também na mesma tentativa de atingir a popularidade.

  14. Um dia desses um amigo me disse “se twitter não é luta de classes, não sei o que é”, e de fato, representa. Representa essa democracia virtual que vivemos, somos todos severinos no twitter e esquecemos dos severinos da vida.
    A piada do twitter deixa de ser a piada do pássaro e passa a ser a piada vulgar, e maior parte das vezes, sem graça.

    Legal é ver quem usa indiscriminadamente, nessa ânsia histérica de se comunicar, de se fazer entender, defendendo que twitter aproxima. Mas aproxima quem?

    (É, viva a interação simbólica!)

  15. Essa discussão sobre o que o twitter representa na vida das pessoas é freqüente nas rodas de conversa com amigos. Os malefícios e os benefícios da era digital vêm com o uso adequado dessas ferramentas. Toda ferramenta que surge na internet tem a princípio um intuito que é deturpado por nós que utilizamos essas ferramentas de forma inapropriada. O que surgiu como forma rápida de comunicação acaba virando uma balbúrdia de informações inúteis que são passadas adiante porque as pessoas buscam essas noticias e as colocam como prioridade.
    O twitter só veio para reforçar a limitação que as pessoas colocam nelas mesmas. A escrita nesse contexto já foi deteriorada muito antes com outras ferramentas que nos fazem escrever livremente esquecendo-se os bons costumes da língua. Essa era de limitações não vem somente da internet, vem desde quando o homem começou a buscar formas de se automatizar e limita-se a um conhecimento. No nosso caso, (principalmente) os jovens se limitam nesse mundo de poucas palavras. Como Rubens Fonseca em “O Romance Morreu”, não acho que o romance tenha morrido, ele continua sendo escrito, nós que é deixamos de lado e não o procuramos. Por isso não seria o twitter um atentado aos bons costumes das poesias e crônicas, seria o ser humano causador das suas próprias limitações.

  16. A piada de uma época em que o “it” é ser breve. Como dizia Flusser: somos superficiais por profundidade

  17. O Twitter é o reflexo das novas “condições impostas” pela revolução tecnológica desde os fins do século XX. A emergência na rapidez da comunicação e que, muitas vezes não comunica nada, assim como a torrente de informações que temos disponível, acaba por desinformar!
    É o poder de síntese que o Twitter, a princípio exige! Mas o que seria da Literatura, se Thomas Mann que sintetizar a prosa fabulosa de “José e seus irmãos”?

  18. A História mostra que a opressão e as limitações às formas de expressão provocam o artista a produzir o seu melhor, revolucionando padrões e formas estéticas. Aqui no Brasil, tivemos nosso ápice de produção cultural durante regimes de exceção. Se somos impelidos forçosamente a reduzir a palavra em 140 caracteres no twitter, uma ideia que veio dos temidos estados imperialistas americanos, sempre fica a sensação de sermos vítimas. Mas aí, a criatividade pela busca da objetividade não limita a criatividade, a ressignifica na contemporaneidade. Poetas tuiteiros estão aí produzindo bons haicais, pequenos fragmentos superficiais de textos que também podem ser expandidos em hiperlinks. O problema não está em quem produz no twitter, mas em quem não está disposto a qualificar a informação ali adquirida. Aproveitem para dar uma tuitada neles: @carpinejar, @alice_ruiz, @millorfernades

  19. Nem.
    Sucintamente para ser solidario com o formato do twitter:
    Quem v^e sintomas em todos o lugares tem de se perguntar se nao tem o olho doente.
    Nietzsche, Pascal e Millor se dariam muito bem com a limitacao a 140 caracteres. E em alguns casos, o que levara um texto curto a ser rotulado como reducionista e nao minimalista sera apenas a ma vontade do leitor.

    @gabriel_ads

  20. Desde as pinturas rupestres, o homem quer deixar as suas inscrições. Sejam elas para quaisquer finalidades forem. As civilizações que não tiveram uma escrita, acabaram por se extinguir. Ainda há hoje línguas que correm este risco, pois não possuem registro escrito que possibilite o seu estudo posterior.
    Esse registro é importante, pois pode levar a “reconstituir” todo o conhecimento histórico de uma civilização. Este foi o caso da Pedra da Roseta, que ajudou a conhecer melhor a civilização egípcia.
    Desde o invenção da imprensa, os textos passaram a ser reproduzidos em larga escala e a uma possível democratização do acesso à linguagem escrita.
    Houve um tempo, anterior a era do rádio, do cinema,da tv, da internet e do celular, onde os romances eram o principal fonte de entretenimento, com impacto semelhante aos das telenovelas de hoje.
    Hoje não se tem mais tempo, nem paciência para longos textos. Vivemos um mundo globalizado, em rápida mudança e em crise. As fronteiras estão sendo quebradas, tanto territóriais, como linguísticas.
    Partindo da idéia do uso do SMS dos celulares, com seus 140 caracteres, surge o twitter. Com o mote: “What’s happening?”, “followers” tentam abocanhar o maior número de “following”. Como em toda mídia, criando uma fogueira das vaidades, com isso disputar quem é capaz de fazer mais “barrulho”. Meio como as vuvuzellas desta Copa.
    Nessa economia de linguagem, numa Babel provocada pela diversidade de origens de seus seguidores, há o espaço para o chiste. Como o famoso “Cala Boca Galvao”. Sem dúvida, o twitter é, no ciberespaço, onde o homem contemporâneo quer deixar a sua marca. O que será que estes hieroglifos digitais vão contar as gerações futuras sobre a nossa civilização atual?

  21. No twitter todos tempos 140 caracteres, somos limitados, limitam o que podemos falar. Como diz o texto, é piada, piador… Para mim, é conversa de boteco, lugar onde não se fala coisa séria, não se fala do que realmente importa. Porém, como em todos os suportes, mesmo no twitter conseguem inovar. Tenho certeza que no futuro, mesmo poesias de twitter, serão consideradas boas…

  22. O twitter é uma evolução e regressão simultaneamente, ele cria e exclui pessoas de um mesmo meio social, com uma facilidade quase instantânea, criando micro-celebridades que estão na mídia hoje graças a preencher o espaço com 140 caracteres. Eu vejo o twitter como o “boom” das mídias socias, ele consegue fazer o que já se tenta há anos, interligar o mundo com interesses iguais, mas os problemas estão mas nos interesses do mundo do que na própria ferramenta que o interliga e a que ponto ele nos faz chegar?! Ele é o meu de troca de informação mais rápido utilizado hoje online, mas que informações são essas, qual a credibilidade que ela tem! O twitter é a verdadeira casa-da-mãe-joana, onde todo mundo está mas não se tem controle sobre nada, mas deveremos reconhece-lo como a representação das mídias sociais atualmente.

  23. O Twitter é isso mesmo que o texto diz. É informação vazia. E quando alguém twitta e coloca um link para termos mais informação, bem nos moldes da publicidade, o que encontramos é a página de alguma revista ou portal de noticias que funciona como uma fábrica. É a produção em série de noticias, de textos e mais textos, fáceis e enxutos. Tudo é contado e é tudo uma fábrica!

  24. O twitter joga com o tempo, o sentimento de castração, e a solidão moderna. É interessante, que´para os anõnimos, sem seguidores, aumenta ainda mais a sensação de “não pertencer”já que os populares,sequer respondem a um reply se não sabem de onde veio.De toda forma, foi o twitter que me trouxe aqui.
    Prefiro a poesia dos livros, como dizia M. Quintana” me fazem companhia e não me roubam a solidão”

  25. Bem. O que faltou dizer: para o tipo de interação-besteirol que o Twitter promove, 140 toques bastam! Aliás, são até demais… Infelizmente. E outra coisa: Dona Poesia não precisa de twitter para sobreviver. Saludos. Maria José Limeira.

  26. “Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.” ( provavelmente Clarisse Lispector )
    Não entendi muito bem o que Márcia propõe aqui, mas acho que, se alguém quiser escrever mais do que os 140 toques permitidos no Tweeter, deveria tentar um blog. Ou usar ferramentas como o ShortText.
    Penso que o Tuíter seja uma forma extrema de “menos é mais”, o que não significa que grandes coisas não possam sair dali. Haicais, microtextos. Depende tanto do emprego desejado quanto da criatividade. Há escolas literárias, escolas estéticas de artes, que incentivam/preconizam a redução do que consideram supérfluo.
    Há uma frase atribuída a Drummond, “escrever é a arte de cortar palavras” ( talvez não seja dele ) que, assim como a citação de Clarice Lispector que fiz no início, mostram que existe quem procure lapidar o texto, sem no entanto reduzí-lo a monossílabos. Eles cortam, mas não tanto. Aí pergunto: o poeta Drummond fugiria do Twitter? Ou buscaria sua forma de empregar a plataforma sem ser conformado a ela?
    Quem leu, sabe que “cortar palavras” era uma das “palavras de ordem”, no livro 1984. Mas, ao contrário do texto de ficção, lemos também muita verborragia, gongorismos e excessos, igualmente contruibuíndo para o distanciamento de leitores que fogem também da suposta banalidade dos “escritos de 140 toques” ( esta é uma forma, mas não é a única ).
    Mas sei lá, não sou filósofo, apenas um usuário diletante do Twitter sem o qual também consigo viver muito bem. A bem da verdade, não ententi muito bem qual é a questão.

  27. os mesmos medíocres que estavam em alguma parte. passam fantasmáticamente para qualquer parte.como estamos eruditos por aquí!? a erudição não nos salva da mediocridade de seres de segunda categoria. a poesia ? já faltava antes do twitter. por ele produz chiados que ninguém escuta. se comunicar já difícil cara a cara. alí é o aquém do nada. pode se passar muito “conteúdeo” pelo twitter mesmo com seus supostos retritivos 140 caracteteres, por sucessivos saltos, ou via links. mas para quem fala ? que articula politicamente ? se a comunicação jásofre com a própria intemediação da linguagem verbal. na tela, seja no twitter, ou em outras circunstâncias, os contatos tornam-se, mais e mais, duvidosos e não vividos, voláteis.
    no mais, “quem pensa que líricos do vazio querem encontro se engana”. acabou chorare. ficou tudo horrendo! miramos só objetos!

  28. Depois deste exercício muito saudável para ler todos os comentários, inclusive o meu, ao qual quero então deixar uma pergunta importante, agora, que se tornou certa e pertinente: Em quanto tempo e livre de estorvos poderíamos obter tamanha quantidade e qualidade de pensamentos, como vimos aqui, nos comentários, e sobre um texto de Marcia Tiburi, que fica ainda muito devendo á sua real capacidade pessoal e intelectual, no twitter?

  29. A unidimensionalidade dos textos da colunista são embasbacantes…

    O twitter não está isolado de todos os meios de comunicação “virtual”, é, normalmente, um complemento de outras ferramentas, como foi citado nos comentários.

    Lendo o texto, a impressão é que todos os seres humanos são uma massa amorfa, manipulados e idiotizados pelo “GRande irmão” virtual…

    Meu twitter é muito interessante. Esses dias fiquei pensando na dificuldade do Plínio Arruda colocar e propor questões a partir dele. Aliás, pra ele, se não fosse o Twitter…

    Adoro aforismo, e sempre há uns Philo quotes, aforsimos do Nietzsche, frases da Lispector, sigo o Zizek que posta links sobre seus trabalhos recentes (assim como várias pessoas compartilham links de informações das mais diversas).

    O comentário acima, dizendo que encontrou esse texto pelo Twitter, demonstra isso. Aliás, eu mesmo estou aqui comentando porque um texto da revista foi retuitado e eu passei a seguí-la…

    Bom, já tinha feito uma crítica sobre o texto do “Amor digital”, e não pretendo repetir ideáis…

    Vai o meu Twitt, ou melhor, do Zaratrusta, ao texto:

    “Porque, a mim, assim falava a justiça: os homens não são iguais…”.

    Não, pássaro não pia.

    “É próprio dos grandes espíritos dizer muito em poucas palavras; pelo contrário, os néscios têm o dom de falar muito sem dizer nada.”

  30. Como dizia o poeta: Com certa certeza meu poema continuara cru depois de impresso. O Twitter decerto é uma das muitas ferramentas que na atual conjuntura, colabora para a conexão entre as pessoas. Todavia também empobrece a língua portuguesa, visto que a gramática e outros por menores são negligenciados. Necessário nos é afirmar que: nas interações via online “tudo nos é permitido” TIBURI com seu estilo peculiar de questionar levanta uma pergunta: será que após Tuitar é possível a pessoa criar uma bela poesia? Como escrevi com certa certeza meu poema continuara cru depois de impresso. Da mesma forma continuará cru os inúmeros diálogos, pelos internautas proposto, justamente pela carência de objetividade e pela ausência da subjetividade entre as partes. Mas nem tudo esta perdido, já que o conhecimento esta acontecendo. Na medida em que se permite ser reflexo do agora para registrar-se nos anais da história o poder de influenciar pessoas e de se influenciar.

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