Medusa: apatia e morte política
A apatia desse momento político nos informa que fomos petrificados pelo poder
Medusa era uma das três Górgonas da mitologia grega e, dentre elas, a única mortal. Na narrativa mítica, quem olhasse diretamente em seus olhos, morria petrificado. Teseu cortou-lhe o pescoço usando um escudo espelhado. Por meio dessa artimanha, ele conseguiu ver aquilo que não se deve olhar de frente.
Muito se escreveu sobre a personagem da Medusa. Alguns disseram que sua face seria a imagem da verdade, outros que ela representaria a alteridade mais radical. Um mito é mais do que uma narrativa precária em relação à razão, é um arranjo de pensamento que serve justamente para fazer pensar. O que chamamos de mito é, sobretudo, uma imagem que nos apresenta um conceito. O conceito apresentado pela Medusa, com seu penteado de víboras e seus olhos aniquiladores, é o conceito de poder.
A Medusa é uma espécie de imagem conceitual do poder. A Medusa concerne à sua iconografia mais primitiva. Na Medusa, desenham-se pelo menos dois vetores: as víboras, os olhos. Não se pode escapar das víboras que se movem sinuosas e venenosas, do mesmo modo que o efeito de petrificação que resulta do encontro com os olhos, nos faz saber que não há retorno, não há conciliação, nem diálogo. A inescapabilidade constitui tanto as víboras quanto os olhos. Quem os confronta é capturado e aniquilado.
Um contato sem interação, um encontro sem relação, eis o que está em jogo diante da Medusa. Não há retorno para aquele que se deixou tocar por seu efeito. Ora, o encontro co
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