Em ‘Ressurreição’, Tolstói mantém viva a consciência individual
O escritor russo Liev Tolstói (Reprodução)
Muitos se perguntam por que será que os romances dos “grandes russos” continuam sendo lidos com afã, mesmo hoje, passados quase 200 anos de seu nascimento. Não é apenas pelo fato de eles se preocuparem profundamente com as questões mais pungentes da humanidade e proporem as soluções a que eles chegaram, mas – o que mais espanta – é ver como a história, no decorrer desses séculos, tornou esses conteúdos cada vez mais atuais.
O caso de Liev Nikolaevitch Tolstói (1828-1910) é sintomático. Em particular, em Ressurreição, o último de seus romances longos, iniciado em 1889 e publicado dez anos depois, cuja trama lhe veio de uma conversa com um jurista russo de grande renome (o mesmo que fornecera a Dostoiévski informações sobre casos de justiça criminal, aproveitados em Os Irmãos Karamazov). As descrições cuidadosamente fundamentadas da indiscutível injustiça do sistema judiciário e prisional, na prática e, principalmente, em seus princípios – na Rússia e no mundo –, são gritantes.
A trama é simples, como é simples e clara a linguagem que a narra, que o tradutor conservou. Uma menina particularmente graciosa, Katerina Mikháilovna Máslova (Kátia), filha de uma criada e de pai desconhecido, é semiadotada por duas solteironas da nobreza que vivem em sua propriedade rural, tias de Dmítri Ivánovitch Nekhliúdov, o protagonista da história. Por um lado, Kátia é educada como moça de família, por outro, serve como uma espécie de criada às duas solteironas. Nas férias, o jovem Nekhliúdov, ainda estudante, se apaixona
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