Nem uma a menos

Nem uma a menos

Fotos das mulheres mortas vítimas de violência na Argentina/Foto: AFP

Em que momento as mulheres se tornaram as soluções para as frustrações dos homens?

Que mensagem esses meninos estão recebendo fora do ambiente doméstico? Pois é difícil acreditar que uma mãe ensine que o menino tem que ter ódio da sua mulher, que tem que dominá-la, colocá-la no lugar que ele acha que é o dela, maltratar, ferir, estuprar, arrancar os cabelos, enfiar-lhe objetos e submetê-la a todo tipo de maldades. Que autoestima baixa tem um homem que, quando a mulher diz a ele que acabou, quer obrigá-la a continuar?

Crescer em ambiente violento influencia, e ter a aprovação do pai é importante (portanto, assim que começa a agressão se faz urgente a separação total da mulher e dos filhos para bem longe do agressor), mas isso não justifica agressão à mulher no patamar em que ela se encontra. A cada uma hora e cinquenta minutos uma mulher é assassinada e a cada onze minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Somos mais vulneráveis que um cachorro. A violência em direção à mulher negra aumentou 54% e caiu 9,2% em relação à mulher branca.

Não existe um perfil típico do agressor. Mesmo aquele que agride esporadicamente, que não usa arma, pode matar, assim como o agressor crônico, a exemplo da formanda de direito que foi agredida uma única vez, com um tiro que a levou a óbito. Qualquer tipo de violência é perigoso para mulher. Não existe violência aceitável.

Em que momento as mulheres se tornaram as soluções para as frustrações dos homens, se tornaram posse, um objeto? Isso ninguém sabe explicar.

A quem interessa uma mulher que não soma, que não entende o mundo, a quem interessa uma mulher que, se o homem morrer de repente, vai depender da ajuda dos familiares ou vai ter que conhecer outro homem para pagar as contas, ou vai ter que pedir esmolas? A quem interessa uma mulher que, se o companheiro ficar doente, não sabe o que fazer? A quem interessa uma mulher que, quando chegar na idade de se aposentar, não contribuiu com o INSS e vai precisar da ajuda dos filhos para sustentá-la? A quem interessa uma mulher que não se cuida, a quem interessa uma mulher que  não tenha autoestima, a  quem interessa uma mulher não seja atraente, a quem interessa uma mulher que não acompanha a cabeça dos filhos, a quem interessa, a quem interessa, a quem interessa? 

As mulheres estão adquirindo mais conhecimento, estão mais militantes e tendem a passar mais informações a  seus filhos.

Os homens estão vendo que uma mulher que estuda e trabalha continua sendo sua companheira, contribui mais para o bem da família, pessoalmente e financeiramente e continua amando o companheiro. Como pode um agressor achar que o amor aumenta quando apanha? Que viagem é esta?

Então como explicar o índice altíssimo de feminicídio (o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher). Suas motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro. Para que tanta raiva acumulada, tanta frustração guardada, tanta falta de respeito com a próxima?

A violência contra mulher tornou-se um caso de saúde pública, as mulheres não vão mais aceitar isso, vão morrer, vão denunciar, vão usar spray de pimenta, vão usar arma de dar choque, vão matar dormindo, vão tirar porte de arma, vão para a cadeia, vão fazer greve no trabalho, vão sair todas de preto. Mas violência institucional, financeira e doméstica não vão mais aceitar. Passou da hora desses machistas reverem seus conceitos, pois as mulheres estão decididas. Nenhuma a menos. 

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Novembro

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