São Paulo

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"São Paulo é um exemplo maior de que o fracasso das instituições talvez seja um ingrediente necessário para a sobrevivência da psicanálise" (Reprodução)
  Na recém-industrializada São Paulo dos anos 20 e 30, a vida moderna adensava o ar de questionamentos sobre o cotidiano nas cidades, o papel das mulheres na sociedade e nas famílias, o lugar do sexo e da moralidade, despertando em seus extremos o temor e suas reações, bem como um ímpeto de aventura e experimentação. Pensamento e prática fundamentalmente moderna, a invenção freudiana fora tomada então para auxiliar em reflexões sobre os contornos da fragilizada identidade nacional, tanto pelas mãos de especialistas na disciplina dos corpos e dos costumes quanto por jovens artistas cosmopolitas. De um lado, em grandes asilos, serviços de saúde mental e até mesmo em bancas de jornal, os higienistas da medicina social promoviam um freudismo saudoso da moralidade patriarcal, contra os “desvios” modernos exemplificados nas neuroses e perversões; de outro, os autointitulados modernistas anunciavam o advento de um matriarcado canibalesco – representado especialmente no Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade – no qual uma versão materna do mito freudiano da horda primeva responderia pela busca às entranhas do ser brasileiro. Ambos, higienistas e modernistas, tornar-se-iam os personagens exemplares das duas grandes vias de inserção da psicanálise em solo paulistano. Contudo, se tal escansão, no seio de uma megalópole que irrompeu do chão como um cogumelo colossal depois da garoa, representa uma particularidade da psicanálise em território nacional, exemplifica ao mesmo tempo uma generalidade da psicanálise. Em quase todos os seus lan

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