Privado: O reino das palavras de Contador Borges

Privado: O reino das palavras de Contador Borges
Foto: Marcela Jones por Claudio Daniel Contador Borges é um poeta que conversa com a filosofia, o teatro, o surrealismo, o barroco e a tradição libertina, realizando uma síntese criativa que torna a sua escrita poética inclassificável conforme os rótulos disponíveis nos escaninhos da crítica literária. Seu livro de estreia, Angelolatria, publicado em 1997, já revela uma voz singular, em versos de estranha plasticidade, como estes, do poema “Falanges”: “Nuas se estiram / Em direção ao mar / De palavras. Trevas / Bordam as margens. // Da luz que se esvai / Entre os dedos”, ou ainda estas linhas de “Máscaras”: “Corre um olho invisível / Por dentro / De cada palavra que sonha / Sair da máscara / Como um sonho de larva”. Há nesse livro vestígios da lírica visionária do simbolismo (tão mal compreendido em nossa literatura) e da estética surreal, mas também dos jogos conceituais e semânticos do barroco e das experiências construtivistas, na fragmentação e espacialização de palavras e linhas que desarticulam o verso e a lógica discursiva linear. Um poema notável pela concepção estrutural é “Leviandades da luz”, formado por 47 frases curtas autônomas, separadas por asteriscos e entre alinhamentos, à maneira de enigmas oraculares ou definições absurdas: “Luzes camicases invadem a página. /O branco quer mácula. / Error na fração do sentido. / Lavar diariamente os miasmas da palavra amor”. Se nas composições lúdicas de Angelolatria o poeta trabalha, se não com o verso (unidade melódico-rítmica do poema, que pres

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