Dossiê – A crise na universidade
Instituições de ensino superior proliferam a cada ano nos quatro cantos do país. Programas de inclusão e métodos de ensino a distância alavancam as estatísticas do acesso do brasileiro à universidade. A despeito do esforço salutar empreendido pelo poder público, a aquisição de um diploma de ensino superior há tempos não pode ser considerada garantia de sucesso profissional. Tal fato explica-se, em parte, pela saturação do mercado de trabalho cuja oferta está aquém da demanda de novos profissionais. Por outro lado, há outro fator essencial a ser examinado: a qualidade da formação.
Em 2008, dos quase 20 mil inscritos no exame da Ordem promovido pela OAB, somente 12,8% foram aprovados. Vale acrescentar que esse exame busca exigir do bacharel em Direito os requisitos mínimos para exercer a profissão. Em universidades públicas como a USP, é comum encontrar turmas com mais de duzentos alunos, principalmente nos cursos de ciências humanas. Ante esses dados, cabem algumas indagações: o que de fato vem ocorrendo no país é a democratização ou a massificação do ensino superior? De que vale ampliar o número de vagas sem investir na contratação de novos professores? Em face do visível descaso com as ciências humanas, é possível formar indivíduos capazes de exercer o pensamento crítico?
Assistimos à inserção da lógica da quantidade, da busca desenfreada por resultados, aplicadas às diversas áreas do conhecimento. Neste dossiê, CULT reuniu renomados sociólogos e filósofos que discutem as deficiências no ensino superior brasileiro. Nas entrevistas que abrem o dossiê, os professores Laymert Garcia dos Santos, Chico de Oliveira, Edgard Carvalho, Lucrécia Ferrara e Eugênio Trivinho falam dos pontos centrais da crise nas instituições públicas e privadas. Em seguida, Ruy Braga e Álvaro Bianchi refletem sobre os danos que a lógica neoliberal acarreta à universidade pública. Ricardo Musse traça um panorama histórico da crise universitária até chegar ao contexto atual. O francês Yves Cohen estabelece um paralelo entre a recente crise no ensino francês e suas semelhanças e disparidades em relação ao cenário brasileiro. Por fim, Vladimir Safatle traz à tona o mal-estar vivido nas ciências humanas e discute a capacidade produtiva das humanidades, em contraposição àqueles que as julgam apartadas da sociedade.