Uma ética da representação em Adorno
O crítico literário Marcio Seligmann-Silva (reprodução)
Não é à toa que Márcio Seligmann-Silva tenha iniciado tanto seu ensaio publicado neste dossiê da CULT quanto seu livro sobre Adorno na coleção “Folha Explica” – que será lançado em setembro pela Publifolha (tel. 11/3224-2186) – com uma reflexão sobre os riscos de tratar do mais agudo crítico da indústria cultural em publicações para o grande público.
De um lado, existe o perigo de sucumbir àquilo que Adorno denuncia, ou seja, de transformar a linguagem do ensaísta alemão em mais um produto filosófico no catálogo da cultura culinária. Por outro, renunciar ao comentário seria uma temeridade especular: “Afinal de contas”, escreve Seligmann-Silva em Folha explica Adorno, “estaríamos caindo nas armadilhas do positivismo ao acreditar na autonomia total da obra adorniana: ela, como qualquer outra, só existe a partir de suas leituras. O comentário é não só possível como essencial à obra e deve ser visto como parte dela.”
Seligmann-Silva resolve esse im passe com uma atenção para o núcleo expressivo do pensamento de Adorno: o caráter indissociável de forma e conteúdo, em que o conteúdo pensa a forma, em que a forma trai o conteúdo, numa fidelidade desesperada.
Para Adorno, a escrita filosófica está submetida ao duplo imperativo ético-estético de não reiterar a relação sujeito–objeto (não reproduzir o assu jeitamento violento do diferente contido na natureza manipulada e na história reificante) e de não eludir as mediações intrínsecas ao pensamento (e que, quando suprimidas, id
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »