Brincando de Shakespeare

Brincando de Shakespeare

LUIZ PIRES

Desde sua morte, Willian Shakespeare tem suas peças sendo traduzidas e encenadas em todas as partes do mundo. Ele é tema da mostra Experimento Shakespeare, que o Sesc Belenzinho, em São Paulo, recebe a partir do próximo sábado (14), e segue até 29/2.

Ela irá reunir três espetáculos, diversos cursos, oficinas e experimentos realizados por grupos de teatro e dança.

Em Versão de Cena, os bailarinos Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira apresentam uma versão de Romeu e Julieta através da dança. “Não é traduzir o que foi feito pelo teatro, mas criar uma dramaturgia para a dança envolvendo questões que estão inseridas em nosso trabalho”, diz Vieira.

Mas um dos espetáculos mais aguardados da mostra é R&J de Shakespeare: Juventude interrompida, do autor norte-americano Joe Calarco, traduzida por Geraldo Carneiro e encenada por João Fonseca. A peça apresenta quatro jovens atores (Rodrigo Pandolfo, João Gabriel Vasconcelos, Felipe Lima e Pablo Sanábio) se revezando entre Romeu, Julieta, Montecchios e Capuletos.

Fonseca recebeu a reportagem da CULT no intervalo do ensaio da peça, no próprio Sesc Belenzinho. Leia abaixo os trechos:

CULT – Como foi montar Shakespeare através do texto de Joe Calarco?

João Fonseca – Foi uma possibilidade bacana de estar brincando com o texto. Calarco abre uma porta muito instigante para mim, que é fazer uma encenação dentro de uma encenação. Isso me deu liberdade para montar um Shakespeare de uma maneira que eu já queria muito fazer: sem cenário ou figurino de época, trazendo elementos contemporâneos e podendo usufruir do jogo teatral.

A partir do momento em que o texto apresenta quatro alunos em uma sala de aula montando Shakespeare, o espetáculo se compõe pelos quatro atores e as coisas que eles têm às mãos em uma sala de aula: régua, cadeiras, dentre outros objetos. Isso permite com que ocorra uma aproximação com o olhar do público de hoje.

Mas com essas adaptações, o espetáculo ainda consegue manter uma atmosfera shakespeariana?

Sim, porque Calarco é um apaixonado por Romeu e Julieta e Shakespeare – e eu também. Então, na verdade, queremos, ambos, fazer Romeu e Julieta. São só diferentes formas de falar e encontrar novas contribuições para o texto. Quando pensei pela primeira vez em encenar Romeu e Julieta, senti a dificuldade que é fazer uma peça que já foi feita tantas vezes e tão bem. Neste caso, tive a oportunidade de fazer partindo de uma visão diferente.

Como foi a recepção do público?

De forma geral, o espetáculo é para todo tipo de público, de todas idades, no Brasil inteiro. As pessoas se mobilizam, sofrem, choram, se apaixonam e se encantam com o jogo teatral. Acaba sendo uma homenagem ao fazer teatro.

E a reação ao fato de estarem apenas homens em cena?

Quando o público vê quatro garotos encenando, em um primeiro momento apresenta diversas reações: um riso, um choque, um espanto. Nunca tivemos nenhuma reação agressiva ou violenta, o que acontece é que as pessoas em alguns momentos sentem-se incomodadas, levantam e saem da peça. No geral, as pessoas esquecem que são dois homens no decorrer da peça.

Além disso, originalmente as peças de Shakespeare eram sempre interpretadas por homens, e, a partir disso,  Calarco consegue fazer com que as pessoas vejam o amor de Romeu e Julieta, sejam eles dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher.

Romeu e Julieta é um uma obra que trata da questão da tolerância, duas famílias que não se aceitam, que vivem uma rixa e não sabem nem ao mesmo o motivo. Por que os Montecchios odeiam os Capuletos? Não se sabe. O espetáculo é uma tragédia e nos permite ver que muitas vezes é necessário um sacrifício para que percebamos aonde chegou nossa intolerância, nossa estupidez.

Qual foi a participação dos atores no processo criativo do espetáculo?

Foi muito grande, pois assim como a proposta do texto é que os estudantes de uma escola estão montando, escondidos, Romeu e Julieta, minha proposta, juntamente com o cenógrafo, foi de trazer alguns elementos e que os atores decidiriam o que fazer.

Durante os ensaios, podiam usar aquilo que quisessem dentre os objetos de sala de aula que tinham dentro das carteiras. A peça realmente é deles, dos estudantes.

AGENDA DA MOSTRA:


Espetáculos:

  • R&J de Shakespeare – Juventude interrompida: 14/01 a 26/02. Sextas e sábados, às 21h30; Domingos, às 18h30. Sábado de Carnaval, dia 18/02, a sessão será às 18h30.
  • Versão de Cena: 27/01 e 28/01. Sexta e sábado, ás 20hrs.
  • Uma Lady Macbeth: 04/02 e 05/02. Sábado, às 20h; domingo às 17h.
  • Ensaio.Hamlet: De 14/02 a 29/02. Terças e quartas, 21h. Exceto no Carnaval: segunda e terça. 20 e 21, às 18h.

Eventos extras:

  • Encontro.Hamlet: Dia 11/02. Sábado, das 16h às 20h. Workshop sob coordenação de Enrique Diaz, tem como objetivo o compartilhamento do processo de criação do espetáculo Ensaio.Hamlet.
  • As canções como guia dramatúrgico: Dia 16/02. Quinta, das 15h às 19h. Oficina com a Cia. Ilimitada de Teatro.
  • Encenar Shakespeare: Dia 16/02. Quinta, 21h. Bate-papo com os diretores Aderbal Freire-Filho, Celso Frateschi e Marcelo Lazzaratto.
  • Romeu & Julieta do Grupo Galpão no Globe Theatre: Dia 23/02. Quinta, 20h. Exibição comentada do documentário sobre a encenação dirigida por Gabriel Villela.

Para maiores informações, acesse: http://www.sescsp.org.br

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