Notícias de outras ilhas: Reynaldo Damazio
O escritor e editor Reynaldo Damazio (Foto: Divulgação)
Reynaldo Damazio, 56, escreve, edita, traduz e coordena atividades culturais. É autor de Crítica de trincheira: resenhas (Giostri/Dobradura, 2019). Para a seção “Notícias de outras ilhas” – em que poetas, escritores e tradutores sugerem leituras para o período da quarentena – indica poemas de Emily Dickinson, Marianne Moore e Giuseppe Ungaretti. Leia abaixo os poemas e o comentário do poeta. A curadoria da seção é de Tarso de Melo.
Traduzo esporadicamente, mas com frequência, como exercício de escrita, de criação, e também como uma maneira amorosa de me apropriar dos poemas que gostaria de ter escrito. Não deixa de ser um diálogo imaginário, ou uma transa na libido da linguagem. Os três poemas que escolhi, de poetas que amo, tocam na fragilidade da poesia e de sua relação com o humano, sem concessões ao senso comum, ao beletrismo, à necessidade narcísica de agradar. O sentido da poesia está em sua inutilidade, como potência para dizer o que não sabemos, o que ainda não vimos, ou aquilo que no passado nos aponta o futuro possível, a inventar.
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Poetas iluminam, tipo Lâmpadas –
Eles mesmos – e saem –
Os pavios que simulam –
Se luz vital
Inerente como nos Sóis –
Cada Idade uma Lente
Disseminando sua
Circunferência
Emily Dickinson
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Poesia
Eu também a detesto.
Lendo-a, todavia, com todo desprezo, descobre-
se, no fim, um lugar para o autêntico.
Marianne Moore
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Alegria dos naufrágios
E súbito retoma
a viagem
como
depois do naufrágio
um sobrevivente
lobo do mar
Giuseppe Ungaretti