O Homem Inacabado

O Homem Inacabado

Annita Costa Malufe

Os leitores de poesia podem comemorar: enfim um novo livro de Donizete Galvão. Nascido no sul de Minas em 1955 e vivendo há 30 anos em São Paulo, Donizete começou a publicar em 1988 e se tornou um dos importantes poetas da geração 1990. Afora os dois últimos livros escritos para o público infantil, esperávamos um livro seu desde Mundo Mudo (2003). Nestes sete anos de silêncio, Donizete parece ter burilado o “inacabamento” do homem até as últimas consequências. E o resultado é dos mais sensíveis, no que se refere à vivência de nossa precariedade. Os poemas, nesta pesquisa, bifurcam-se: de um lado, há os que exploram a sensação de enclausuramento e desânimo, o impasse de nossa condição humana e temporal; de outro, aqueles que indicam pequenas saídas, em geral relacionadas ao cultivo de “um modo de olhar” voltado para pequenas experiências: observar “a aparição dos objetos”, uma romã aberta, o círculo que o café desenha no pires, a variação da cor azul em diferentes situações e suportes.

No poema sobre o azul “Blues para Niura”, baseado na obra desta artista contemporânea, aprende-se quanto os outros modos de olhar podem nos ser dados pela arte e, em especial, pelas artes plásticas – ideia que permeia todo o livro e que pode surgir ainda de modo irônico, como no poema “A Salvação pela Arte”. Como se Donizete fosse pouco a pouco mostrando ao leitor que, inspirado por imagens, ele também nos oferece imagens como possibilidades de “atravessar as coisas / para melhor absorver-lhes / a duração e o gosto”. Aprende-se aqui que o poeta é um “cortador de bambus” que “abre com o corpo uma picada, / delimita um território […] em que se possa viver”. Temos, por fim, a rara possibilidade de vivenciar na pele quanto a (boa) poesia pode ser a criação de uma casa, de um mundo, com sua própria pulsação.

O Homem Inacabado
Donizete Galvão
Portal
80 págs. – R$ 25

(2) Comentários

  1. Certamente encaminhei um email para o Donizete Galvão para falar sobre poesias, além de ter sido bem gentil em sua resposta, fez um convite para que eu um ilustre desconhecido participasse do encontro literário promovido por ele aos amigos, além de presentear-me com seus belos livros. Confesso que depois desse dia ampliou ainda mais a minha admiração por ele, pois o considero um poeta de grande envergadura literária, diferente de outros poetas de menor, mas de uma jactância absurda.

  2. Há três anos encaminhei um email para o Donizete Galvão para falar sobre poesia, além de ter demonstrado na resposta uma gentileza excepcional, fez um convite para que eu, um ilustre desconhecido, participasse do seu consagrado encontro literário promovido para reunir os seus amigos, neste dia fui agraciado com seus livros de poemas. Confesso que depois desta data ampliou ainda mais a minha admiração por este poeta, pois o considero um nome de grande envergadura nacional; muito diferente de outros poetas de menor valor e tomados por uma jactância absurda.

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